28 February 2007

(2006) Apocalypto: O inicio do fim de uma civilização

Com esta review pretendo demonstrar o porquê deste filme não ter sido nomeado para o Oscar de melhor filme em língua estrangeira.


A acção do filme decorre nos últimos dias da civilização Maia antes desta ter tido contacto com os espanhóis, centrando a história em volta de uma pacata comunidade que vive no meio da floresta, que um dia é abalada por um ataque de outra “tribo”, fazendo a quase totalidades dos habitantes prisioneiros. Os captores levam-nos de seguida para a capital Maia com o intuito de serem sacrificados.


Desde o ataque que o filme brinda o espectador com uma enorme quantidade de violência, que vai ser a nota dominante do filme, que por esse motivo, não é recomendável a pessoas sensíveis. Gibson já tinha feito correr tinta por esse mesmo aspecto na Paixão de Cristo, o que começa a ser uma marca pessoal do estilo deste realizador.


Além de pretender chocar as pessoas, em que contribuiu a violência para a qualidade do filme? Na minha opinião, juntamente com a fraca visão global do realizador, contribuiu arruinar o potêncial do filme. Isso é visível nas sucessivas cenas que contam a caminhada dos prisioneiros até à capital, que duram cerca de 30 minutos. Durante esse tempo todo, apenas uma cena é realmente importante (provavelmente a cena mais importante de todo o filme), que corre o risco de passar despercebida no meio de tanta violência. Nessa cena, os caminhantes deparam-se com uma menina doente que os captores não deixam aproximar do grupo. Após várias tentativas falhadas, ela faz uma profecia. A partir de então, o filme rodar em torno dessa profecia. Todas as outras cenas da caminhada estão em excesso.


Após a caminhada surgem os sacrifícios. Embora esta seja a parte mais violenta do filme, não há uma aparente inutilidade nas cenas que nos são apresentadas, assim como todas as cenas desde então. Apenas deixo um aviso para o pormenor arrepiante na cena da decapitação. Após estas cenas, o filme torna-se muito interessante com a fuga do herói.


Do ponto de vista técnico, trata-se de um filme muito bem feito. Geralmente as câmaras estão no local certo (exceptuando a confusa cena inicial da caçada), bons sons, excelente guarda-roupa. O facto do filme ser falado naquilo que pretende ser (não sei se com sucesso) o dialecto Maia, a juntar a todos os pormenores técnicos já referidos, contribui para aumentar a sensação de realismo do filme.


Em jeito de resumo, Gibson apresenta-nos uma obra interessante, com o potencial de ser um bom filme, mas cuja não definição de uma visão global faz com que o filme não tenha uma linha de história bem definida (às tantas não se percebe se se está a contar a história da comunidade que vimos a principio ou da capital Maia). Globalmente, é um filme com uma incrível qualidade de técnica grande, com uma boa história, mas a má forma como ela é contada faz com que globalmente não ultrapasse o mediano. O facto do filme ter uma cena cliché em nada contribui para a sua qualidade.


Apesar disso, o filme entretém e não é de todo um filme a evitar nas salas de cinema. Apenas recomendo a baixarem as expectativas por forma a não saírem desiludidos.


Pontuação global: 6,0

27 February 2007

Antevisão 2007-03-01

Como já vem sendo hábito, os filmes previstos estrear num dado mês nem sempre estreiam. Há sempre adiamentos, filmes substituídos, etc. Por esse motivo, vou passar a fazer uma antevisão semanal em vez de mensal. Sendo assim, vamos ao que interessa.


Em estreia


Dreamgirls

El Laberinto del Fauno

Notes on a Scandal

Code Name: The Cleaner




Apenas 4 estreias na semana em que se soube o resultado da noite dos Oscars. Dos 4 filmes a estrear, 3 estiveram nomeados, e dois ganharam pelo menos uma estatueta. Vamos então por partes.


Dreamgirls foi o filme mais nomeado (principalmente em categorias técnicas) mas que apenas venceu uma estatueta. A película está a ter muita promoção, mas pelas informações que disponho, parece que é mais fumo que fogo. Trata-se de um musical tendo como uma das protagonistas Beyoncé Knowles. Peço desculpa pelo cepticismo, mas devia haver um pouco de consciência por parte dos artistas que lá por saberem cantar não significa que saibam actuar, e vice versa. Sem grandes comentários apenas declaro que há escolhas mais apelativas.


El Laberinto del Fauno foi um dos grandes vendedores da noite com 3 estatuetas. É um filme que promete, e que estreia na melhor semana possível. Tendo vencido vários Oscars na Segunda-feira, a memória das pessoas ainda está fresca e poderá atraí-las a ver o filme. Parece o filme mais prmissor a estrear esta semana.


Judi Dench esteve nomeada para o Oscar de melhor actriz pelo seu papel desempenhado no filme Notes on a Scandal. Confesso estar mal informado acerca deste filme, mas do que está escrito na sinopse o filme promete. Recomendado.


Finalmente Code Name: The Cleaner é um filme a evitar principalmente com o vasto número de filmes candidatos ou vendedores dos prémios da academia que se encontram nas salas de cinema portuguesas.




Resumo:


El Laberinto del Fauno e Notes on a Scandal são as estreias mais promissoras e aquelas recomendadas pelo Movie Snobs. As outras duas não têm qualidade suficiente para competir com as estreias recomendadas ou com os restantes filmes ainda em exibição.

25 February 2007

Nomeações para os Oscars (8 de 8)

Chegamos então à última categoria incluída no meu lote pessoal dos 8 prémios mais importantes dos Oscars. Sem qualquer demora, aqui estão os 5 candidatos:

(8) Best Writing, Screenplay Based on Material Previously Produced or Published

Parecem haver 2 claros candidatos à vitória nesta categoria, sendo eles "Borat: Cultural Learnings of America for Make Benefit Glorious Nation of Kazakhstan" e "The Departed". O primeiro dos favoritos não é mais do que uma lista interminável de situações que são capazes de despertar uma risada no mais sisudo dos seres humanos, enquanto que o segundo é uma adaptação interessante do brilhante "Infernal Affairs", com a introdução de algumas alterações na história que tornam a versão de Scorsese mais envolvente, emocionalmente complexa e não tão distante do espectador.

É um palpite algo complicado, pois parece-me que Sacha Baron Cohen poderá mesmo receber uma estatueta nesta categoria, sendo este prémio uma espécie de compensação pelo facto de ter sido ignorado na categoria de Melhor Actor Principal. No entanto, a escolha poderá também recair sobre uma história intensa recheada de acção, drama, traição, romance e violência. Ponderando todos os factores em jogo, penso que a consistência da complexa rede humana retratada em "The Departed" deverá ser suficiente para garantir a vitória.

Nomeações para os Oscars (7 de 8)

Nas duas categorias que se seguem, não me irei alongar tanto como nas previsões anteriores, visto ter finalmente entrado no domínio dos argumentos escritos para o grande écrã. Nesta categoria, irei então abordar os seguintes 5 candidatos:

(7) Best Writing, Screenplay Written Directly for the Screen

Tanto nesta como na próxima categoria parecem-me estar, sem qualquer tipo de dúvida, os 10 melhores argumentos do ano. Na presente categoria surgem 4 dos 5 nomeados para a categoria de Melhor Filme, dado que a obra-prima de Scorsese apenas tem lugar na categoria que segue, dado tratar-se da adaptação de material previamente publicado ou produzido.

Antes de revelar o meu palpite pessoal acerca do vencedor desta categoria, falta-me apenas abordar o único filme a que ainda não tive a oportunidade de me referir. Minutos antes de começar a escrever este artigo, terminei o visionamento de "El Laberinto del Fauno". Irei em breve publicar uma review deste filme, portanto apenas irei abordar os seus pontos fundamentais. Aliás, penso que consigo descrevê-lo em três palavras (podia fazê-lo em apenas uma, mas quero utilizar o verbo e o artigo indefinido por uma questão de completude lexical): é uma obra-prima.

Este é um filme que muito facilmente poderia ter estado nomeado para a categoria de Melhor Filme, não fosse o facto (aparentemente muito incómodo para a Academia) de ser falado em espanhol. É emocionalmente poderosíssimo, extremamente intenso, gráfico e multifacetado, com uma ligação perfeita entre o mundo brutalmente real e cruel do regime fascista em Espanha e o mundo mágico e simultaneamente belo e negro com o qual a jovem protagonista entra em contacto ao longo do filme.

Não me irei alongar mais acerca deste e dos restantes candidatos, deixando apenas a minha convicção pessoal de que Guillermo del Toro deverá, muito provavelmente, ver o seu trabalho reconhecido nesta categoria, assim como na categoria de Melhor Filme de Língua Estrangeira. O único concorrente à altura de "El Laberinto del Fauno" é o versátil e inteligentemente escrito argumento de "Little Miss Sunshine", que tem a seu favor ser um filme falado em inglês. Sim, eu sei que é um motivo apropriado para um ser humano com uma mentalidade típica do século XVII, mas infelizmente é assim que funciona Hollywood. Um pouco para o Bem e muito para o Mal.

24 February 2007

Nomeações para os Oscars 2007 (3 de 8)

Partindo de um registo perfeito nos palpites fornecidos para as duas categorias já abordadas, passo para a minha previsão dos resultados dos Oscars na seguinte categoria:

(3) Best Performance by an Actor in a Leading Role

Nesta categoria começam então a surgir as piadas falhadas da Academia. Porquê falhadas? Porque não têm piada, obviamente! Sobretudo quando não são nomeados actores que o mereciam em claro detrimento de alguns que se encontram nesta lista.

Começo logo pelo caso mais gritante de todos. Will Smith? Quando é que esta gente da Academia se convence que este homem é um dos actores mais sobre-estimados da sua geração? Será que alguém, no espaço de 5 segundos, me consegue dizer o nome de 3 filmes em que tenha tido um bom desempenho? E respondendo à primeira questão que surgiu na vossa mente mal terminaram de ler a questão anterior, não podem responder "The Prince Of Bel-Air", pois não é um filme e o seu papel é medíocre, assim como a série em si.

Ah, esperem... Já me estou a recordar do brilhante papel que desempenhou em "Ali". Eu disse "brilhante"? Não liguem ao que digo... Deve muito provavelmente ser algum sintoma inicial de uma contaminação com o H5N1. Como é possível um homem estragar papéis ao mesmo ritmo que eu vejo filmes? Nunca vi um papel tão mau num filme biográfico como o de Smith em "Ali". Centrando-me no papel em questão, "The Pursuit Of Happyness" é um filme com uma história para "puxar lágrimas", se me permitem a expressão, e bastante consistente, mas, mais uma vez, não consigo deixar de achar o seu desempenho perfeitamente vulgar. Como tal, não consigo compreender os fundamentos da sua nomeação para esta categoria.

Continuando a dar corda a esta onda de revolta, passo então para Leonardo DiCaprio. Esqueçam o "Titanic" de uma vez por todas e constatem aquilo que é facto: DiCaprio é o actor mais talentoso da sua geração e irá, um dia mais tarde e sem qualquer tipo de dúvida, figurar na lista dos melhores actores de sempre. A sequência de desempenhos fabulosos com que nos tem brindado (apetecia-me dizer "abençoados", mas não quero que fiquem a pensar que sou algum religioso fanático que justifica o lado bom da vida com Deus e outras referências ectoplasmáticas espectrais semelhantes) nos últimos anos apenas é ultrapassada pelo trabalho de alguns monstros de Hollywood, como Robert De Niro e Al Pacino, por exemplo.

O início do seu amadurecimento como actor começou no momento em que foi "adoptado" por Scorsese, substituíndo um já algo envelhecido e pouco dinâmico De Niro e passando a assumir o papel de actor-fetiche de um dos maiores realizadores de sempre. O ano de 2006 ficou marcado por dois excelentes desempenhos de DiCaprio nos filmes "The Departed" e "Blood Diamond" dos realizadores Martin Scorsese e Edward Zwick, respectivamente. Após uma análise cuidada destes filmes, mantenho a minha reacção de estupefacção quando me deparei com a nomeação de DiCaprio para esta categoria pelo seu papel em "Blood Diamond". Embora seja um desempenho notável, até um miúpe como eu é capaz de constatar que o papel de DiCaprio em "The Departed" será o seu melhor desempenho até hoje, juntamente com a sua caracterização de Howard Hughes em "The Aviator".

A verdadeira questão a considerar, relativamente a esta situação, é a seguinte: porque é que DiCaprio não foi nomeado por "The Departed"? Uma possível teoria, e que é a minha actual convicção, é dada no decurso da análise do próximo nomeado, mas posso, entretanto, deixar aqui a moral da história que, infelizmente, passa por este não ser o ano de DiCaprio nos Oscars. A minha admiração por este actor cresce a cada filme seu que vejo e acredito que a conquista de uma estatueta dourada não é mais do que uma questão de tempo.

A resposta à questão que havia lançado no parágrafo anterior está directamente relacionada com Peter O'Toole. Estando DiCaprio fora da corrida devido a uma nomeação muito inteligente por parte da Academia, restam dois resultados possíveis para esta categoria, passando um deles pela já muito tardia consagração deste enorme actor que poderá ver ser-lhe atribuído este ano o prémio que já lhe escapou em 7 prévias tentativas ("Lawrence of Arabia", "Becket", "The Lion in Winter", "Goodbye, Mr. Chips", "The Ruling Class", "The Stunt Man" e "My Favorite Year").

A cerimónia deste ano marca um período de 25 anos de ausência de O'Toole das nomeações para os Oscars, tendo-lhe, no entanto, sido atribuído na cerimónia de 2002 o único Honorary Award dado pela Academina até hoje por, e passo a citar, "whose remarkable talents have provided cinema history with some of its most memorable characters". Por favor... Se não querem dar um Oscar ao homem, ao menos tenham a decência e coragem de o afirmar publicamente, ao invés de nos atirarem com areia para os olhos. Parece-me que não há muito a dizer sobre este homem, dado que o seu vasto e glorioso currículo fala por si e é capaz de deixar boquiaberto qualquer amante de cinema.

Se bem se recordam, afirmei que existiam dois resultados possíveis para esta categoria. Estando um deles já coberto, o outro diz então respeito à vitória de Forest Whitaker, o que daria continuidade à impressionante série de vitórias que este veterano actor tem vindo a coleccionar em todas as cerimónias relacionadas com cinema pelo seu retrato do ditador Idi Amin em "The Last King of Scotland". O seu desempenho é soberbo e marca claramente o ponto alto de uma carreira algo discreta, no sentido de que Whitaker participou em alguns dos filmes mais marcantes do cinema, mas sempre em papéis secundários e quase sempre ofuscado por desempenhos fantásticos dos respectivos cabeças de cartaz.

Até ao lançamento do filme pelo qual se encontra nomeado, apenas posso destacar os papéis que desempenhou em "The Color of Money", "Platoon", "Good Morning, Vietnam" e "The Crying Game", sendo que estes me parecem ser aqueles onde mais teve a oportunidade de mostrar o seu verdadeiro valor e as suas capacidades como um actor versátil capaz de estar à vontade em géneros tão variados como acção, drama e comédia. No que diz respeito à vitória nesta categoria, é um dos dois principais candidatos e mais não é preciso dizer.

Ryan Gosling é a grande surpresa neste lote de actores, pelo menos para quem ainda não teve a oportunidade de ver "Half Nelson". Este jovem actor ocupa uma vaga neste lote de nomeados que começa a parecer estar reservada todos os anos para uma nomeação surpresa. No entanto, não posso deixar de referir a justiça da chamada de atenção para o talento de Gosling que esta nomeação constitui para os mais distraídos em Hollywood, cuja carreira no grande écrã começou com um pequeno papel em "Remember the Titans". Quando tive oportunidade de o ver em "Murder by Numbers", fiquei cativado com o seu desempenho, que acabou por ser a única fonte de luz num filme vulgaríssimo. Antes de Half Nelson, Gosling teve 3 papéis notáveis e dignos de referência nos filmes "The United States of Leland", "The Notebook" e "Stay". Tem um futuro brilhante e esta poderá ser apenas a primeira de muitas nomeações e quem sabe se não virá mesmo a levar para casa uma destas estatuetas.

Recapitulando, esta estatueta irá ser atribuída a Peter O'Toole ou Forest Whitaker, embora a minha intuição me diga que O'Toole irá abandonar Los Angeles com um imenso sorriso nos lábios e com um prémio há já muito merecido. Em relação aos palpites pessoais para as nomeações, desta feita apenas acertei em 3, pois tinha apostado na nomeação de DiCaprio pelo seu papel em "The Departed" e, provavelmente para grande espanto de alguns, estava convicto que Sacha Baron Cohen iria ver o seu super-desempenho em "Borat: Cultural Learnings of America for Make Benefit Glorious Nation of Kazakhstan" reconhecido pela Academia com uma nomeação nesta categoria. Sinceramente, acho que Sasha deve considerar a sua vitória nos Golden Globes muito mais importante que qualquer possível nomeação para os Oscars, visto que a Hollywood Foreign Press até parece perceber alguma coisa de cinema e, quiçá, até seja mais instruída nesta matéria do que certas Academias...

21 February 2007

(2006) Letters from Iwo Jima: Memórias escritas de uma batalha

Após Flags of Our Fathers , que nos conta a história dos homens que ergueram a bandeira americana no topo do monte Suribashi, Clint Eastwood traz-nos um filme que relata o lado japonês dessa mesma batalha.

A acção de Letters from Iwo Jima passa-se no final da 2ª Guerra Mundial, na ilha de Iwo Jima, numa altura em que poderio militar japonês mostrava-se insuficiente para travara a armada americana. Este filme retrata, do ponto de vista japonês, o campo de batalha, desde o momento em que o general Kuribashi assume o comando das operações até à rendição do último soldado. No inicio do filme assiste-se à preparação para a invasão, com o novo general a reestruturar o plano defensivo em curso até então, sendo uma parte do filme menos ritmada. Posteriormente dá-se inicio à invasão americana. Aqui o filme apresenta um problema, pois a passagem do tempo não é clara. Cerca de 6 meses passaram desde o momento em que Kuribashi assume o comando até ao dia D da invasão, mas no filme não há uma indicação de tal. A passagem do tempo, é mesmo o maior problema do filme. Quando este chega ao fim, ficamos com a sensação que apenas alguns dias se passaram, quando na verdade a batalha demorou mais de um mês.


A sensação de confusão em relação á passagem do tempo pode ser parcialmente explicada com a forma com que a história é contada. Esta roda em torno do que foi vivido por um soldado japonês (Saigo), que inicialmente estava destacado para o monte Suribashi, que é o primeiro outpost japonês a cair no filme. Saigo vai sobrevivendo aos sucessivos ataques americanos, até se juntar ao último posto de resistência.


O filme também não pretende mostrar nem exaltar as estratégias defensivas usadas pelos japoneses, mas sim mostrar o lado humano, desconhecido dos americanos. Os japoneses neste filme são mostrados como seres humanos iguais aos americanos, com sentimentos e emoções; mostra o desespero com que lutavam, o medo que tinham quando tinham de atravessar fogo inimigo, o descontentamento por terem abandonado a família e estarem a lutar por uma ilha que não lhes interessava defender.


A nível técnico o filme está bastante bom. Realização, actores, efeitos visuais e sonoros, banda sonora no sitio certo. Apenas um reparo para a montagem que não está brilhante e que fez com que o filme sofresse de problemas de ritmo.


Quanto a Oscars, tanto o melhor filme como melhor realizador não deverão ser atribuídos a esta película, não por ser de qualidade inferior aos seus competidores, mas sim porque estes estarem mais perfilados para a estatueta. Pessoalmente quando o comparo a Babel (o candidato mais forte a vencer o prémio), Letters from Iwo Jima é um filme superior, pois tem o que Babel não tem, um objectivo.


Pontuação global: 8,5

20 February 2007

Nomeações para os Oscars 2007 (2 de 8)

Começando por recordar que acertei nas 5 nomeações para a categoria Best Motion Picture of the Year, vou então prosseguir a minha previsão dos resultados dos Oscars, focando a minha atenção na seguinte categoria, tendo, mais uma vez, acertado em cheio nestes 5 candidatos:

(2) Best Achievement in Directing

Esta categoria apresenta um nível de incerteza claramente inferior à que abordei na primeira parte desta previsão dos Oscars. Aquando da divulgação das nomeações, a sensação imediata foi a de que este seria finalmente o ano de Martin Scorsese. À sexta nomeação, e após 5 tentativas prévias em que o tão ambicionado prémio lhe escapou ("Raging Bull", "The Last Temptation of Christ", "Goodfellas", "Gangs of New York" e "The Aviator"), este seria o ano da consagração absoluta daquele que, para mim, é um dos 3 melhores realizadores de sempre da história do cinema.

Uma das dúvidas que mantinha dizia respeito aos resultados da cerimónia dos prémios da Screen Director's Guild. Ao longo das 56 edições de entrega destes prémios, por 52 vezes o prémio atribuído veio, mais tarde, a coincidir com o Oscar. Dado este facto curioso, esperei ansiosamente pela realização da cerimónia, e consequente entrega dos prémios, e quando constatei que Scorsese tinha sido premiado pelos seus colegas de profissão devido ao fantástico trabalho que desenvolveu no filme "The Departed", elevei o meu nível de convicção para 93% de que o Oscar irá ser-lhe atribuído.

Os indícios que apontam para este resultado são imensos e demasiado fortes para que uma pessoa sensata aposte em qualquer um dos restantes quatro nomeados para a vitória nesta categoria. De qualquer forma, gostaria de falar um pouco sobre cada um deles, começando por Stephen Frears, que considero um dos realizadores britânicos mais subestimados da sua geração.

O currículo deste experiente realizador inglês é extraordinário (quem não se lembra de filmes como o fantástico "Dangerous Liaisons", "The Grifters" que lhe valeu a sua única nomeação nesta categoria até este ano, "Hero", o incompreendido "Mary Reilly", o soberbo "High Fidelity" e "Mrs Henderson Presents"), tendo ficado claramente explícita a sua capacidade para lidar com actores de renome, levando-os a desempenhar os seus papéis com brilhantismo. O expoente máximo da sua carreira é, sem qualquer dúvida, The Queen, sendo este o seu trabalho mais consistente e poderoso, no qual beneficia de dois pontos em seu favor: a abordagem do período conturbado que se viveu em Inglaterra após a morte da Princesa Diana, uma figura quase elevada ao estatuto de deusa pelo povo, e a fenomenal interpretação de Helen Mirren, não sendo nenhum exagero afirmar que Frears foi autenticamente abençoado aquando da resposta afirmativa de Mirren ao convite que lhe havia sido feito.

Desde que começaram a ser veiculadas as primeiras notícias que indicavam uma vontade de abordar este período específico da história inglesa em filme, sempre afirmei que apenas existia uma actriz capaz de interpretar aquele que poderia vir a ser um papel talhado para os Oscars. E essa mulher é Helen Mirren. Terei, no respectivo artigo, a devida oportunidade de elaborar sobre a minha admiração por esta deusa da 7ª Arte. Fiquei muito contente por ver o trabalho de Frears reconhecido na cerimónia de entrega dos BAFTA, com o galardão de melhor filme britânico do ano.

Clint Eastwood é um monstro do cinema. E não o digo com uma conotação negativa. Bem pelo contrário, visto que este homem é uma das pessoas que sempre admirei em Hollywood por ser um trabalhador incansável, rigoroso, sério e fiel aos seus princípios morais e de vida. O trabalho que desenvolveu ao longo de todos estes anos de carreira fala por si. Quem é que se poderia esquecer do mítico Dirty Harry, o protótipo de polícia perfeito, para o qual os fins justificam os meios, quando se tratava de apanhar o mau da fita e ver a justiça cumprida? Apesar de um vasto leque de grandes papéis desempenhados, sempre me pareceu que a sua carreira subiu a pique a partir do momento em que decidiu dedicar-se mais à sua faceta de realizador, sem nunca abdicar, no entanto, da oportunidade de desempenhar os principais papéis em muitos dos seus filmes.

Tudo começou com o fantástico "Unforgiven", onde assumiu a dupla tarefa de protagonista e realizador, tendo o seu trabalho sido reconhecido unanimemente pela crítica e coroado com os Oscars de melhor realizador e melhor filme. E este filme permitiu constatar uma das maiores virtudes de Eastwood como realizador (virtude essa que partilha com Scorsese e que apenas os abençoados possuem) é a sua capacidade inata de fazer brilhar os seus actores, através de um processo de casting criterioso em que nada fica ao acaso, sendo o resultado final um emparelhamento quase perfeito entre actores e papéis. No filme em questão, como é possível esquecer o desempenho de Gene Hackman, tendo conquistado o Oscar de melhor actor secundário? Mais recentemente, temos os casos de "Mystic River", com a atribuição dos Oscars de melhor actor e melhor actor secundário a Sean Penn e Tim Robbins, respectivamente, e "Million Dollar Baby", com o qual atingiu o ponto alto da sua carreira e a consagração definitiva, com 4 estatuetas douradas (melhor filme, melhor realizador, melhor actriz principal para Hilary Swank e melhor actor secundário para Morgan Freeman).

Alejandro González Iñarritu é um realizador com um currículo pouco extenso, principalmente devido ao facto de apenas ter realizado o seu primeiro filme aos 33 anos e de ainda ser bastante novo (43 anos), de acordo com os padrões usuais para realizadores. Pode-se rapidamente constatar que Iñarritu contas apenas com 3 longas-metragens na sua curta carreira, constituíndo estas uma trilogia cujo principal tema é o ser humano e a forma como se relaciona com outros seres da sua própria espécie em diversos cenários e contextos emocionais. "Amores Perros", "21 Grams" e "Babel", respectivamente, contam diversas histórias onde me parece que a principal ideia a reter é a incapacidade do ser humano em lidar com as suas próprias emoções e com as consequências que as suas acções acarretam.

O seu estilo de realização é algo peculiar, passando pela construção de uma rede de acontecimentos sem uma sequência cronológica e espacial bem definida, o que pode facilmente despertar sentimentos de confusão e desconforto nos espectadores. Um dos snobs residentes deste blog não é, ele próprio, um grande fã do estilo de Iñarritu, enquanto que, pessoalmente, devo dizer que, embora não seja o meu tipo de realização favorita, também não me incomoda muito e consigo, com alguma paciência, lidar com os constantes saltos no enredo. É a sua primeira nomeações e parece-me estar perfeitamente arredado de qualquer hipótese de vencer a categoria.

Paul Greengrass tem a carreira mais modesta de todos os realizadores nomeados, mesmo em comparação com Inãrritu, dada a diferença de 8 anos de idade entre ambos, sendo Greengrass mais velho. O trabalho de Inãrritu conseguiu já atingir um nível de notoriedade do qual Greengrass começou apenas a aproximar-se no ano de 2004, embora numa direcção cinematográfica completamente distinta, com a estreia de "The Bourne Supremacy". Com a excepção de "The Theory of Flight", que retrata uma história algo curiosa e pouco comum, a carreira de Greengrass parece ter sido focada em películas relacionadas com manobras militares e a estadia sangrenta dos ingleses na actual República da Irlanda ("Bloody Sunday"). "United 93" é o grande feito da sua carreira até ao presente momento: um filme poderosíssimo, que aborda um tema ainda muito presente em todos nós e com o qual lidou de uma forma fria, directa e, em certos pontos, quase cruel. Tal como Iñarritu, é a sua primeira nomeação nesta categoria e finaliza o lote de não-candidatos.

12 February 2007

(2006) Rocky Balboa: O último combate de Rocky!

30 anos após o inicio da saga, Sylvester Stallone traz-nos o desfecho de Rocky, num filme que escreveu e realizou.

Rocky Balboa conta-nos a história da vida de Rocky na casa dos 50 anos, tendo perdido a sua mulher devido a cancro e estando à muito afastado dos rings. O filme centra-se em Rocky e não no combate contra o actual campeão de pesos pesados como nos dá a entender o filme.


Sendo um filme centrado sobre Rocky, era importante que esse personagem estivesse bem construída e com um desenvolvimento interessante ao longo do filme, sendo precisamente isso que acontece. No entanto, as outras personagens não estavam tão bem no filme não tendo uma personalidade definida e parecendo que estavam um pouco á deriva na acção. Os actores desempenham o seu papel de forma convincente e o filme não perde por isso.


A história tem um bom ritmo de acção e tecnicamente está bem filmado, principalmente as cenas do combate, que nos mostram os motivos que o levaram a aceitar participar no combate. Apenas alguns detalhes na colocação das câmaras e da pós-produção em algumas cenas, mas nada de muito significativo para o filme. As cenas clássicas que se esperam num filme de Hollywood estão presentes, mas não são as protagonistas do filme.


Numa apreciação global, Rocky termina a sua saga com chave de ouro com um filme muito bem conseguido, valendo a totalidade dos 5€ do bilhete de cinema. Deixo apenas dois avisos para que não vão ver o filme com expectativas erradas e que saiam desiludidos: primeiro o filme não é um filme de acção, é principalmente um drama centrado na personagem de Rocky; o boxe apresentado é um boxe cinematográfico e que nunca poderia ocorrer num combate a sério.


Pontuação global: 7,5

11 February 2007

Antevisão: Fevereiro 2007 (parte 2 de 2)

Dia 15

Hannibal Rising
Letters from Iwo Jima
Curse of the Golden Flower
The Last King of Scotland
Tenacious D: The Pick of Destiny
Zoom

The Return

Mais uma grande semana de cinema em perspectiva com dois candidatos a Oscars. Letters from Iwo Jima e The Last King of Scotland deverão ser boas opções para essa semana. Hannibal Rising, Curse of the Golden Flower e Tenations D: The Pick of Destiny puderão agradar aos fans dos seus géneros mas não deverão estar perto da qualidade dos anteriores. Apenas a evitar o Zoom, que pelos ratings do IMDB é um filme do bottom 100.

Dia 22

Black Book

Butterfly: A Grimm Love Story

Half Nelson

Driving Lessons

The Good Shepherd

Pulse

Smokin' Aces


A única semana sem estreias sonantes a nível de Oscars. Para mim é mesmo difícil destacar algum filme conhecendo apenas as sinopse. De salientar apenas Black Book e Butterfly: A Grimm Love Story, que se juntam a The Lives of Others, perfazendo 3 filmes alemães a estrear este mês.

Comentário Final

Como comentários finais gostava de realçar novamente a grande qualidade e quantidade das obras cinematográficas que estreiam no mês de Fevereiro. Apenas fico triste de não conseguir assistir a todos os filmes que pretendo ver este mês. Ficamos à espera do que nos reserva o mês de Março.