26 August 2007

(2006) Perfect Creature


Ao longo de 300 anos, a raça humana foi confrontada com uma série de pragas à escala mundial, constituídas por doenças resultantes das experiências de cientistas conhecidos como alquimistas. Perante a possibilidade de controlarem o conceito de vida e de assumirem o papel de Deus, os alquimistas deram início a uma era de ciência genética, da qual resultaram, não só as doenças, mas também algo que nunca havia sido contemplado. Uma das ditas pragas levou ao surgimento de um novo ser que era conhecido como nosferatu e temido pela sociedade. Ao contrário da crença comum, estes seres não eram monstros, mas sim uma evolução genética do ser humano.

O alquimista Giuseppe Di Angelo foi o pioneiro da ciência genética e afirmou que os nosferatu eram uma nova espécie de seres enviada por Deus para servir e proteger a raça humana. Isto levou à união destes seres e à criação de uma ordem religiosa, passando então a ser conhecidos como The Brothers. A orientação espiritual fornecida por esta ordem religiosa, assim como os seus vastos conhecimentos científicos, foram colocados ao dispôr da civilização humana com o intuito de a proteger das pragas ainda existentes.

Durante 300 anos, estas duas raças viveram em harmonia. O sangue necessário para a sobrevivência dos Brothers era voluntariamente fornecido pelos humanos e nunca se havia registado qualquer ataque a um humano. No entanto, numa versão alternativa da nossa década de 60 do século XX, tudo mudou quando Edgar, um brilhante Brother que se encontrava a trabalhar numa vacina para a actual onda de influenza, decide abandonar uma existência de reclusão e dedicação à sociedade humana para dar início a uma onda de mortes que põe em causa a confiança que havia sido arduamente construída entre as duas raças.

O seu irmão de sangue, Silus, é destacado pela ordem para capturar Edgar e impedir que o massacre de inocentes continue, garantindo simultaneamente a preservação da relação de convivência existente entre humanos e Brothers. Silus forma uma aliança com Lilly, uma solitária e atraente detective da polícia que foi destacada para os casos relativos aos sucessivos homicídios cometidos por Edgar. Com o desenrolar da estória, Silus começa a aperceber-se das verdadeiras intenções de Edgar e da ordem religiosa da qual fazem parte.

"Perfect Creature" é apenas a segunda longa-metragem de Glenn Standring, um realizador neo-zelandês relativamente desconhecido. Este filme é mais uma prova que, sem grandes nomes no elenco e com um orçamento relativamente modesto, é possível fazer um bom filme. O argumento, escrito pelo próprio Standring, consegue ser bastante original e relativamente consistente. Algumas das questões levantadas ao longo do filme poderiam ter sido exploradas um pouco mais exaustivamente, embora não tenha afectado muito a estória.

Quanto ao elenco, refiro apenas as três personagens principais do filme. Dougray Scott (Silus) tem um desempenho sólido e credível. A luta interna contra uma onda de novos sentimentos que advêm de toda a situação em que subitamente se vê envolvido é bastante bem retratada. Saffron Burrows (Lilly) esteve também em bom plano, representando uma mulher dura, enquanto agente da polícia, mas simultaneamente frágil e profundamente afectada pela perda da filha devido às constantes doenças que assolam a sociedade em que vive. Para terminar, não posso afirmar que tenha apreciado o desempenho de Leo Gregory (Edgar), pois pareceu-me insistir em momentos de overacting para exprimir a instabilidade emocional da personagem.

Pontuação global: 7,1

23 August 2007

(1982) Blade Runner




Blade Runner é um filme de Ridley Scott baseado no romance de Philip K. Dick Do Androids Dream of Electric Sheep? Não se trata de uma adaptação, pois há grandes diferenças entre as duas estórias.

A estória do filme desenrola-se num universo futurista numa cidade com um clima húmido e sombrio. A Tyrell Corporation desenvolve andróides idênticos a seres humanos, impossível os distingur fisicamente dos humanos. Esses andróides designam-se de Replicants. Esses replicants são usados como mão de obra escrava nas colónia espaciais. As unidades Blade Runner são a unidade da polícia responsável por eliminar qualquer replicant que se encontre em fuga. “This was not called execution. It was called retirement.”

Rick Deckard, um ex Blade Runner é contactado pelo seu antigo chefe (Bryant) para voltar ao trabalho na caça de 4 replicants em fuga. É ele o personagem principal (tanto no livro como no filme) sendo ele que vai narrando a acção nos momentos mais calmos do filme.
Rachel é uma replicant experimental a trabalhar para a Tyrell Corporation. Tendo sido implantada com memórias, foi-lhe escondida a sua verdadeira natureza: o facto de ser replicant.
Roy Batty é o líder dos replicants em fuga. Foi desenhado para defesa das colónias. Forte e dotado de uma inteligência superior, não vai parar até conseguir os seus objectivos.

Todos os personagens estão soberbamente interpretados e a forma como a estória é contada leva a que várias interpretação sejam feitas.

Os cenários estão fantásticos, com a cidade num mundo sombrio, que intensifica o drama vivido pelos personagens. A banda sonora ajuda igualmente a esse efeito, não sendo necessário muito esforço para perceber os sentimentos que as melodias pretendem realçar.

Embora diferentes, filme e livro têm a mesma premissa: replicants em fuga, e um Blade Runner que os pretende retirar. O drama da acção é contado em primeira pessoa tanto no livro como no filme, mas no filme os replicants têm um maior destaque do que aquele que têm no livro, em detrimento do personagem principal (Deckard). Mas embora diferentes, as questões levantadas são as mesmas: o que é a humanidade? até que ponto podem as máquinas ser humanas? qual a fronteira entre o natural e o artificial? que são na verdade a essência da obra de Dick. Por esse motivo, este filme é uma boa “conversão” desse obra para o grande écran.

A estória aliada à proeza técnica, fazem com que este filme assuma o estatuto de obra de arte. As interpretações aos personagens e ao filme em si, conferem-lhe o estatuto de filme de culto.

Pontuação global: 10,0

(2007) Ratatouille



De cada vez que os estúdios Pixar lançam um novo filme, penso que talvez seja esse que me irá desiludir. E de cada vez, a Pixar mantém um nível de excelência que, a meu ver, os torna num dos melhores estúdios da actualidade.

Ratatouille conta a estória de Remy, um rato que tem um olfacto e paladar mais refinados do que é típico naquela espécie. Inspirado pelo famoso chef Gusteau, Remy deseja ser cozinheiro. No entanto, como seria de esperar, este sonho é difícil de realizar, pois ratos não são uma presença aceite em cozinhas.

Brad Bird volta como argumentista e realizador, tal como fez em The Incredibles. O argumento é o típico de filmes da Pixar, abordando temas como a auto-ajuda, o seguir dos sonhos, o valor da amizade, a importância da família, etc. Sim, nada de novo, mas é muito bem conseguido.

As vozes estão bem conseguidas. Gostei especialmente da do crítico de gastronomia Anton Ego (cuja voz é dada pelo venerável Peter O'Toole). Aliás, achei a personagem em si uma das mais interessantes, bem conseguidas e surpreendentes de todo filme.

Tecnicamente, o filme cumpre as espectativas. A animação mantém a qualidade a que a Pixar já nos habituou. No final dos credits afirmam, com orgulho, "100% computer animation, no motion capture involved". As expressões faciais e os gestos das personagens são deliciosos.

Digno de nota é Lifted, o short da Pixar que, mantendo a tradição, é mostrado antes do filme. Uma ideia simples e divertida que funciona muito bem.

Espero agora ansiosamente pelo próximo filme da Pixar, Wall-E, agendado para 2008. Deram-nos um curto teaser antes do filme começar, mas já foi o suficiente para eu começar a pensar se será desta que vou ficar desiludido... Espero que não.

Pontuação global: 8,7

Anyone can cook!

18 August 2007

(2006) Turistas


"Turistas" conta a estória de Alex Trubituan, que, devido a pressões familiares, se vê forçado a acompanhar a sua irmã, Bea Trubituan, e uma amiga, Amy Harrington, num período de férias no Noroeste do Brasil. Após um acidente que envolveu o autocarro em que viajavam, conhecem outros turistas estrangeiros que se encontram a visitar o país, nomeadamente a já muito viajada Pru Stagler e dois amigos ingleses, Finn Davies e Liam Kuller.

Frustrados com o tempo de espera até ao próximo autocarro para poderem prosseguir as suas viagens, decidem aventurar-se pelo meio do mata até que encontram uma pequena praia paradisíaca com um bar acolhedor. Após um dia repleto de bebida, festa e socialização com os habitantes locais, acordam no dia seguinte na praia sem qualquer recordação do que se passou na noite anterior e constatam que todos os seus pertences foram roubados, tendo apenas restado as poucas peças de roupa que têm vestidas. Tinham acabado de ser o alvo de um golpe conhecido como "Bom-dia, Cinderela!", que consiste em "enriquecer" as bebidas de turistas incautos com diversas drogas (Dormonid, Lorax, etc.).

Com o intuito de tentarem descobrir uma esquadra da polícia para participar o assalto, dirigem-se para uma pequena vila na qual entram em conflito com os seus habitantes. Kiko, um jovem que haviam conhecido no decurso da festa, ajuda-os a escapar de uma situação potencialmente explosiva e oferece-lhes abrigo numa casa isolada que um tio seu tem no meio da floresta que circunda a vila. Perante a possibilidade de poderem aguardar em segurança pelo próximo autocarro que os levará para longe daquele local, o grupo aceita a proposta de Kiko. No entanto, as intenções do tio de Kiko, o Dr. Zamora, começam a ser lentamente reveladas.

John Stockwell é um realizador que não apresentava um currículo exactamente brilhante antes da sua participação neste filme e em nada veio contribuir para o abrilhantamento da sua carreira actual. A estória apresenta falhas óbvias e é muito pouco consistente, o que impede que se encarem os acontecimentos retratados como algo que poderia acontecer na vida real. Como atenuante, deve ser dito que este filme é mais um exemplo evidente de má promoção por parte dos estúdios de Hollywood. Não se trata de um filme de terror, com imenso gore e slashers à mistura, nem de uma espécie de copycat do "Hostel", mas sim de um thriller cuja premissa se baseia em elementos provenientes de diversas situações que são infelizmente reais.

Quanto ao elenco, começo por referir Josh Duhamel (Alex Trubituan). Quem é que disse a este jovem que ele era um actor? Das entrevistas a que tive a oportunidade de assistir, fiquei com a sensação de que se trata de uma pessoa simpática e extrovertida, mas talento... não. Dado que os restantes elementos do elenco não queriam que Josh fizesse má figura, mantiveram o nível de actuação estabelecido por este último. Felizmente, Olivia Wilde (Bea Trubituan) e Beau Garrett (Amy Harrington) foram capazes de me distrair da insipidez global dos desempenhos deste elenco com a inegável qualidade dos seus atributos físicos.

A moral da história é não passar férias no Brasil apenas porque conseguiram viciar a votação das novas 7 maravilhas do mundo, levando à inclusão do Cristo Redentor na lista final.

Pontuação global: 4,4

12 August 2007

(2007) Dead Silence


Jamie e Lisa Ashen são um casal cuja vida muda drasticamente na noite em que deixam à porta do seu apartamento um embrulho misterioso endereçado a Jamie cujo conteúdo consiste num boneco de ventriloquista. Acedendo aos desejos alimentares da sua esposa, Jamie sai para comprar o jantar num restaurante chinês. Durante esse período, Lisa é brutalmente assassinada no apartamento. Sem qualquer alibi a seu favor, o detective responsável pelo caso, Jim Lipton, considera de imediato Jamie como o principal suspeito.

Dada a coincidência do aparecimento do boneco e da morte da sua esposa, Jamie decide seguir o seu instinto e baseia-se numa velha estória de fantasmas para encontrar o verdadeiro responsável pelo assassinato de Lisa. Como tal, decide regressar à pequena terra de onde é oriundo, Ravens Fair, com o intuito de recolher provas que lhe permitam reclamar inequivocamente a sua inocência. Após a sua chegada a Ravens Fair, Jamie é confrontado com indícios de que o fantasma vingativo de Mary Shaw, uma ventriloquista acusada muitos anos antes do desaparecimento de um jovem rapaz, poderá ser a verdadeira culpada do sucedido à sua mulher.

Dead Silence é o filme mais recente de James Wan, o criador da franchise do Saw (foi o realizador de Saw e co-argumentista de Saw e Saw III). Leigh Whannell participa como co-argumentista, tal como havia feito em todos os filmes da franchise do Saw lançados até ao presente momento (não participou no ainda por estrear Saw IV).

Relativamente ao elenco, nenhum dos seus elementos merece ser alvo de destaque especial. Nem Donnie Wahlberg (Jim Lipton), cujos desempenhos em Saw II e Saw III eu realcei como tendo sido muito bons, dado que a personagem do detective me pareceu um pouco descontextualizada do tom geral do filme e algo difícil de enquadrar na disposição definida para o restante elenco. Bom, acho que posso abrir uma excepção para Amber Valletta (Ella Ashen). Tem um papel relativamente curto, mas importante no desenrolar da estória... e é uma mulher lindíssima.

Os principais motivos que me levaram a ver o filme foram o tópico abordado (tenho algum receio inato de bonecos e marionetas) e o facto de ser realizado e escrito pela dupla já referida. No entanto, não posso esconder alguma desilusão com o filme. Partindo de um conceito interessante, Whan e Whannell não foram capazes de construir uma estória sólida, sendo facilmente encontrados erros de continuidade e estando esta repleta de clichés, associados há muito ao cinema de terror, utilizados de uma forma algo despropositada. No final do filme, pude constatar a presença do que começa já a ser uma imagem de marca desta dupla. Aqueles que viram, pelo menos, o primeiro Saw concerteza saberão do que estou a falar.

Beware the stare of Mary Shaw
She had no children, only dolls
And if you see her in your dreams
Be sure you never, ever scream


Pontuação global: 6,1

07 August 2007

(2007) The Simpsons Movie – O meu reino por um donut!



Foi necessário esperar mais de 15 anos para que a série de televisão The Simpsons tivesse uma versão no grande écran. No entanto a espera valeu a pena, pois trata-se de um filme bem conseguido.

The Simpsons Movie tem provavelmente um dos melhores começos da história do cinema, ao qual não falta a habitual intro da série animada. Spoilers Trata-se de uma menção a todos os que estão na sala, pois podiam ter ficado em casa e viam o mesmo, o que no fundo é a verdade.
Fim de Spoilers

O filme conta-nos a estória do lago de Springfield, super-poluído ao ponto do mínimo despejo ilegal ir causar uma calamidade. Claro que a calamidade vai mesmo acontecer, devido ao Sr. Homer Simpson (como não podia deixar de ser), apesar de todas as medidas tomadas para evitar mais despejos. É então que nos é contado o que vai acontecer à família Simpson e a Springfield, cujo destino está nas mãos do presidente dos Estados Unidos, alguém que nunca pensaríamos que ocuparia esse cargo.

A estória desenrola bem, não se notando muito o tempo a passar, e tal como na série, no final é contada mais uma aventura da família Simpson. No entanto o filme não passa de uma aventura mais alargada, e questionamo-nos se terá valido a pena o esforço.

No que diz respeito à animação, há alguns planos inovadores em relação à série: o 3D. Os personagens estão lá todos, se bem que Bart está um pouco “out of character”. Mas no que diz respeito ao humor, este continua tipicamente Simpsons.

No geral trata-se de um filme sólido e com o qual podemos contar para passar uma boa hora e meia.

Pontuação global: 7,0