
Em 2027, um jovem com 18 anos é assassinado. Isto não seria notícia, senão pelo facto de ele ser a pessoa mais jovem do planeta.
Realizado por Alfonso Cuarón, Children of Men decorre num futuro apocalíptico no qual a Humanidade se tornou infértil. Poluição? Experiências genéticas? Cólera divina? Sem respostas, e sem perspectivas de futuro, a sociedade colapsa. Como se vê escrito numa parede: The last one to die please turn out the light.
A estória desenrola-se no Reino Unido, talvez o último local onde ainda existe alguma forma de governo, que vive sob um regime fascista onde os imigrantes e refugiados são perseguidos, tudo em nome da Homeland Security. Quaisquer semelhanças com Auschwitz, Abu Ghraib ou Guantánamo não são pura coincidência. Tal como as melhores estórias sobre futuras distopias, esta tem uma mensagem actual.
Clive Owen é Theo Faron, um antigo activista político que é contactado pela sua mulher, Julian (papel desempenhado por Julianne Moore), para que obtenha documentação que permita a fuga a uma jovem refugiada africana, Kee (papel desempenhado por Claire-Hope Ashitey), para um barco-refúgio ao largo da costa.
A importância da missão só se torna patente quando nos apercebemos que Kee está grávida, e que o nascimento da criança pode dar respostas que permitam assegurar o futuro da Humanidade.
O elenco porta-se bem, mas não quero dedicar-lhe mais tempo desta review, além de dedicar uma menção honrosa à participação do grande Michael Caine, que desempenha o papel de Jasper, um amigo de Theo.
O que gostaria de realçar neste filme é o excelente trabalho de câmara, algo que já se tornou numa trademark de Cuarón.
Numa época onde filmes de acção são frequentemente filmados com cuts frenéticos (sim Michael Bay, estou a falar contigo), as cenas contínuas e Children of Men são imensamente poderosas e verdadeiras proezas técnicas. Sinto-me obrigado a mencionar as duas mais marcantes (sem spoilers, espero):
- A emboscada na estrada é uma única cena de 4 minutos, com a câmara a rodar, a entrar e a sair do carro. Um veículo especial teve que ser construído para permitir todos estes movimentos da câmara sem recorrer a cortes.
- A corrida pela cidade em guerra é uma única cena que dura uns espantosos 8 minutos (!), com a câmara a entrar e a sair de edifícios, com tiros e explosões a toda a volta. O efeito final é uma sequência que lembra um documentário filmado numa zona de guerra.
Em abono da verdade, devo apontar que estas cenas não foram todas filmadas num único take. Há algum CGI envolvido para ligar vários takes no que aparenta ser uma única cena contínua. No entanto, isto não reduz o impacto do efeito conseguido.
Pontuação global: 8,3
The future is a thing of the past