02 April 2007

(2006) Casino Royale


"Casino Royale" marca o regresso ao grande écrã do agente secreto 007 e retrata o ponto de partida de James Bond como agente do MI6. O filme começa com Bond a levar a cabo dois assassinatos profissionais, o que lhe permite obter o estatuto de agente 00 com licença para matar.

Ao contrário de um erro comum cometido na grande maioria dos filmes de Bond feitos até hoje, "Casino Royale" capta a verdadeira essência do agente 007, tal como descrita por Ian Fleming nos seus livros: um assassino inteligente, violento, obstinado e frio. De acordo com a própria M, Bond é um "blunt instrument".

A sua primeira missão leva-o a Madagascar, onde deveria manter sob constante observação um bombista mercenário ligado a uma célula terrorista. Quando as coisas não correm como planeado, e após um voto de desconfiança por parte de M, Bond decide prosseguir as investigações por conta própria. Nas Bahamas, ele encontra Alex Dimitrios, um homem ligado ao crime organizado que está associado ao 'nemesis' de Bond neste filme: Le Chiffre, um banqueiro corrupto que financia as grandes organizações terroristas internacionais.

Le Chiffre vê-se obrigado a organizar um jogo de 'high-stakes poker' no Casino Royale, em Montenegro, quando Bond o leva a perder na Bolsa o dinheiro que lhe havia sido dado por um grupo terrorista do Uganda. O objectivo do jogo é recuperar o dinheiro perdido e restabelecer a sua reputação perante as organizações cujo dinheiro gere, evitando simultaneamente perseguições vingativas ao seu próprio grupo.

Sendo Bond o melhor jogador de 'poker' de entre todos os agentes do MI6, a sua participação no torneio do Casino Royale é assegurada pelos serviços secretos britânicos, sabendo perfeitamente que impedir Le Chiffre de vencer o torneio significa o fim da sua organização.

O interesse amoroso de Bond é Vesper Lynd, uma agente do governo britânico cuja responsabilidade é controlar o dinheiro investido na participação no torneio. Esta personagem será extremamente importante para a evolução da personalidade de Bond, não só como agente secreto e assassino profissional, mas também como ser humano.

Este é, muito provavelmente, o melhor filme de James Bond feito até hoje. A cinematografia é de elevada qualidade, sobretudo a sequência inicial que, ao ser filmada a preto e branco, fez sobressair a brutalidade das duas primeiras mortes oficiais de Bond e desperta no espectador um sentimento de ansiedade e expectativa relativamente ao que está para vir.

Quanto ao argumento, finalmente ficaram para trás os planos ridículos para conquistar o mundo e um lote infindável de personagens menos credíveis que em nada abonavam para a credibilidade dos filmes. Nota-se claramente o toque de Midas de Paul Haggis no argumento, pois do que conheço da estória original, pareceu-me que a sua adaptação à realidade contemporânea foi extremamente suave e muito bem conseguida.

Martin Campbell realizou o seu segundo filme de James Bond, tendo o primeiro sido "GoldenEye", o único filme que se pode classificar como bom da era Pierce Brosnan. O trabalho que desenvolveu neste filme foi excelente e começa-me a parecer ser a escolha óbvia para realizar o próximo filme, com estreia marcada para 2008.

Daniel Craig foi uma fantástica surpresa no desempenho do papel do impiedoso James Bond. De todos os actores que levaram esta personagem ao grande écrã até hoje, o meu favorito sempre foi (e continua a ser) Sean Connery, seguido de Timothy Dalton. Com este desempenho fabuloso, Daniel Craig saltou directamente para a segunda posição da minha lista pessoal e, após mais um ou dois filmes com a mesma qualidade de "Casino Royale", facilmente chegará ao primeiro lugar. Que os fãs de James Bond não tenham ilusões: Daniel Craig é o homem perfeito para o papel e está para ficar!

O desempenho de Eva Green, no papel de Vesper Lynd, deixou algo a desejar, faltando-lhe um toque de carisma para desempenhar uma personagem principal num filme desta magnitude. Não posso deixar de destacar a excelente actuação de Mads Mikkelsen, que retratou quase na perfeição o vilão Le Chiffre. Esteve ao nível de Daniel Craig e espero ter a oportunidade de o ver em breve noutros filmes.

Não posso esconder alguma desilusão com a música escolhida para o filme. Embora relativamente agradável, não chega sequer aos calcanhares de músicas como "GoldenEye" (Tina Turner) e "A View To a Kill" (Duran Duran). Não há dúvida que destas já não se fazem... ou, pelo menos, já ninguém se dá ao trabalho de as fazer.

Pontuação global: 7,7

1 comment:

JSilva said...

Na minha opinião, o melhor filme de James Bond que vi até hoje.

Em certa medida, este filme nem seria considerado um filme ao estilo "James Bond", pelo que os outros nos habituaram. Nada de gadgets ridículas nem one-liners foleiros. Este Bond é muito mais "realista" (ora aí está um termo que nunca imaginei aplicar a um filme do James Bond).