02 December 2007

Anton Ego


Será Anton Ego a melhor personagem do filme "Ratatouille" e, quem sabe, deste ano cinematográfico? O Jsilva não abordou esta questão aquando da publicação da sua review para evitar possíveis spoilers, mas a verdade é que ambos ficámos agradavelmente surpreendidos por os autores da estória terem tomado um rumo delicioso com a personagem, evitando os clichés mais fáceis.

Anton Ego, cuja voz foi fornecida pelo soberbo Peter O' Toole, é o crítico culinário mais poderoso de Paris, podendo criar ou destruir a reputação de restaurantes, e os respectivos chefes de cozinha, com um simples artigo redigido de uma forma simultaneamente eloquente e venenosa. Conhecido como "The Grim Eater", Ego é portador de uma aparência extremamente desagradável que incute puro medo nos corações dos mais competentes e bem sucedidos cozinheiros.

Esta personagem acabou por se revelar emocionalmente complexa, sendo apresentada à audiência por intermédio de um processo de caracterização simplesmente brilhante. A cena do regresso à infância constitui um genuíno momento de movie magic. É poderosíssima e o monólogo proferido por Anton é fantástico:

In many ways, the work of a critic is easy. We risk very little yet enjoy a position over those who offer up their work and their selves to our judgment. We thrive on negative criticism, which is fun to write and to read. But the bitter truth we critics must face is that, in the grand scheme of things, the average piece of junk is more meaningful than our criticism designating it so. But there are times when a critic truly risks something, and that is in the discovery and defense of the new. Last night, I experienced something new, an extraordinary meal from a singularly unexpected source. To say that both the meal and its maker have challenged my preconceptions is a gross understatement. They have rocked me to my core. In the past, I have made no secret of my disdain for Chef Gusteau's famous motto: Anyone can cook. But I realize that only now do I truly understand what he meant. Not everyone can become a great artist, but a great artist can come from anywhere. It is difficult to imagine more humble origins than those of the genius now cooking at Gusteau's, who is, in this critic's opinion, nothing less than the finest chef in France. I will be returning to Gusteau's soon, hungry for more.

11 November 2007

(2001) Not Another Teen Movie


A acção decorre no John Hughes High School, onde os estudantes que o frequentam podem facilmente ser catalogados de acordo com os estereótipos adolescentes há muito existentes na sociedade escolar juvenil. Jake, o rapaz mais famoso do liceu e membro da sua equipa de futebol americano, é desafiado a entrar numa aposta por Austin, um arrogante quarterback da equipa de futebol com uma tendência irritante de criar alcunhas comicamente estéreis para as pessoas em seu redor.

A aposta consiste em transformar Janey, o "patinho feio" da estória (a típica rapariga linda sem meios financeiros e sem amigos que tem um ar demasiado geeky para que alguém repare nela e que a exclui dos meios sociais mais elevados do liceu), na raínha do baile de finalistas. Jake enfrenta vários obstáculos na sua tentativa de vencer a aposta, com destaque para a sua irmã Catherine, a rapariga mais cruel do liceu, e Priscilla, a cínica e irritante líder das cheerleaders que transita de namorada para ex-namorada de Jake na fase inicial do filme. Outro obstáculo é obviamente o facto de Jake começar a apaixonar-se por Janey durante a execução do seu plano.

Muitas outras personagens são retratadas no filme:
  • Sadie, a jornalista infiltrada no liceu, mas que tem uma idade um pouco acima do que seria de esperar;

  • Mitch, Ox e Bruce, os amigos que procuram incessantemente perder a virgindade, aproveitando para espiar as meramente casuais cenas de sexo lésbico que ocorrem nos balneários das raparigas após as aulas de educação física;

  • Areola, a estudante estrangeira sem nacionalidade definida e que percorre os corredores do liceu completamente nua;

  • Malik, o jovem negro cuja missão é única e exclusivamente proferir as falas tipicamente atribuídas a um negro em pontos cruciais da estória: Damn!, Shit! e That is wack!;

  • Amanda, a rapariga perfeita que é o ponto de origem de um desejo ardente por parte de Mitch, um dos membros do trio de amigos já referido;

  • o treinador da equipa de futebol americano que introduz em quase todas as suas frases a expressão God damnit!;

  • Ricky, o melhor amigo de Janey e que tem uma obsessão por esta última que lhe permite ser classificado como um stalker a dar os seus primeiros passos nessa nobre arte;

  • Sandy Sue, a mais recente aquisição da equipa de cheerleads que padece do síndroma de Tourette.

"Not Another Teen Movie" foi realizado por Joel Gallen, um produtor e realizador cuja única experiência fora do âmbito da televisão foi precisamente este filme. Observando o seu currículo, constata-se que as suas associações televisivas centram-se em torno da MTV, mas a verdade é que fez um bom trabalho neste caso particular. Como todos os filmes deste género, existem excelente momentos cómicos no seu decorrer, assim como péssimas tentativas de piadas que falham por completo os seus respectivos objectivos.

Apreciei bastante que tenha apostado em spoofs de filmes dos anos 80 ("The Breakfast Club", "Risky Business" e "Sixteen Candles", entre outros), criando uma mistura bastante agradável com as referências a filmes mais recentes ("American Pie", "American Beauty", "Cruel Intentions", etc.). Foram também introduzidos elementos que são premissas obrigatórias em filmes deste género, como tits 'n' ass, piadas de cariz escatológico e aquele que, na minha opinião pessoal, é um dos beijos mais nojentos da história do cinema. Simplesmente nojento!

Relativamente ao elenco, deixo referências para Chris Evans (Jake), a atraente Chyler Leigh (Janey) e o meu exemplar favorito de white trailer trash, a bela Jaime Pressly (Priscilla), que acabam por ser as figuras principais do filme e cumprem os seus papéis sem quaisquer apontamentos negativos. Existem outros destaques, mas ao nível de pura estimulação visual: Joanna Garcia (Sandy Sue), Lacey Chabert (Amanda), Mia Kirshner (Catherine) e Cerina Vincent (Areola). Uma referência também a algumas aparições especiais por parte de Molly Ringwald, Melissa Joan Hart e Laurence Tureaud (a.k.a, Mr. T).

É um filme que proporciona bons momentos de comédia nonsense, sobretudo se o espectador estiver na disposição de se divertir. Caso consiga identificar as referências aos filmes mais antigos, penso que poderá inclusivamente disfrutar ainda mais das respectivas piadas.

Give me a W!
Give me a Y!
Give me a... Lick my pussy ass cock shit!


Pontuação global: 5,2

04 November 2007

(2006) Skinwalkers


No início de Skinwalkers, é-nos apresentada a definição da expressão de origem Navajo "Yee nadlooshi" (Skinwalkers), referindo-se a seres humanos que, através do consumo de sangue de outros humanos, adquiriram poderes sobrenaturais. Estes poderes são considerados uma benção por alguns e uma maldição por outros. Em virtude desta divisão moral, decorre uma guerra entre duas facções de lobisomens, em que uma delas pretende pôr um fim à maldição, o que permitirá a todos os lobisomens levarem uma vida como seres humanos normais. A restante facção não pretende abdicar dos seus poderes e fará tudo o que estiver ao seu alcance para que se mantenha o status quo.

De acordo com uma antiga profecia índia, o fim da existência destes seres será originado por um rapaz de sangue misto (meio humano, meio lobisomem) que, sob uma lua vermelha e ao atingir os 13 anos de idade, se irá transformar e colocar um ponto final na maldição que assola os lobisomens. Esse rapaz é Timothy, um jovem que vive com a sua mãe humana e um conjunto de supostos familiares que, na verdade, são elementos da facção "boa" de lobisomens cuja função é proteger o rapaz com as suas próprias vidas até ao dia em que este possa finalmente cumprir a profecia. No entanto, a facção maléfica monta uma perseguição sangrenta e implacável a Timothy, tendo os seus elementos a perfeita consciência de que apenas a morte do rapaz poderá garantir a manutenção dos seus poderes.

A realização esteve a cargo de James Isaac. Uma breve observação da sua carreira é suficiente para que se possa discernir o tipo de projectos de baixa qualidade em que se envolve como realizador e produtor. Não querendo concerteza destoar do que tinha vindo a fazer até ao momento, enveredou então por este filme. Gostaria de fazer uma breve referência à audácia deste homem em afirmar que David Cronenberg é o seu ídolo e mentor. Se assim é, por favor, não envergonhes mais um dos maiores ícones vivos do cinema de terror. Relativamente ao elenco, não faço qualquer tipo de referência, pois esteve globalmente mal. Os efeitos especiais são dos poucos pontos positivos do filme. É altamente provável que este tenha sido o único aspecto em que Isaac conseguiu aprender algo com Cronenberg.

Por vezes questiono-me se será assim tão complicado criar um filme com cerca de 90 minutos de duração e cujo objectivo principal seja única e exclusivamente entreter uma audiência. Infelizmente, este filme é uma prova inequívoca de que o próprio conceito desta tarefa é algo transcendente para certas pessoas que trabalham no ramo do cinema. Em suma, um desperdício de tempo.

Pontuação global: 3,8

17 October 2007

(2006) Snakes On a Plane


Daniel Hayes, o procurador da cidade de Los Angeles, é brutalmente assassinado quando se encontra de férias no Hawaii. O responsável pela sua morte é Eddie Kim, um mafioso asiático que estava a ser ferozmente perseguido por Hayes e decidiu tomar medidas drásticas para impedir que a justiça seguisse o seu curso. O que não estava nos planos de Kim era que Sean Jones, um jovem surfista, assistisse ao assassínio de Hayes enquanto praticava motocross junto ao local do crime. Sean vê-se então perseguido pelos capangas de Kim, mas quando estes se preparam para o silenciar permanentemente, são impedidos de o fazer pelo agente Neville Flynn do FBI.

Após salvar a vida de Sean, Flynn convence-o a testemunhar contra Kim num tribunal de Los Angeles. O passo seguinte consiste em transportar Sean em segurança até aos E.U.A., sendo tomada a decisão de viajar num comum vôo comercial (South Pacific Air Flight 121). Os informadores de Kim descobrem os planos supostamente secretos de Flynn e colocam a bordo do avião um leque interminável de cobras e serpentes venenosas, cuja agressividade é estimulada com a utilização de feromonas. O objectivo passa por fazer com que o avião de despenhe no decurso da sua viagem para Los Angeles.

"Snakes On a Plane" mantém um padrão comum a filmes cujo núcleo da estória se desenrola a bordo de um avião, que consiste em nos apresentar personagens diversificadas (as atraentes assistentes de bordo, o piloto mulherengo, uma estrela de rap, o casal de jovens brincalhões, etc.). Os desempenhos dos actores foram aceitáveis, embora alguns se tenham esmerado para mostrar inequivocamente que estão na profissão errada. O lado positivo é que foi possível observar algumas "carinhas larocas", como Julianna Margulies, Rachel Blanchard, Sunny Mabrey e Elsa Pataky.

Como não poderia deixar de ser, a excepção que confirmou a regra ao nível das actuações foi o enorme Samuel L. Jackson (Neville Flynn). Um grande actor que dispensa qualquer tipo de apresentação e que, por norma, consegue erguer-se acima de qualquer falha na qualidade dos filmes em que entra.

A realização esteve a cargo de David R. Ellis, um profissional da Sétima Arte cuja longa carreira compreende um extenso currículo como duplo, coordenador de duplos, e assistente de realizador. No entanto, e enquanto realizador principal, apenas trabalhou em quatro filmes no espaço de 10 anos, estando assim a dar os seus primeiros passos nesta profissão. Infelizmente, parece estar mais inclinado para filmes divertidos, ao invés de apostar no aprofundamento das suas capacidade como realizador através de filmes mais sérios.

Este filme não é mais nem menos do que puro entretenimento. Os seus defeitos, embora sendo em demasia, encontram-se sob a alçada de uma tremenda atenuante, que é a de o filme não se levar ele próprio a sério. Isto contribui para que se torne ainda mais divertido.

Enough is enough! I have had it with these motherfucking snakes on this motherfucking plane!

Pontuação global: 5,7

13 October 2007

(2006) Pulse


Josh, um jovem hacker universitário, consegue entrar no computador de Douglas Zieglar, um outro hacker que se encontra a desenvolver um novo tipo de sinal de comunicação poderosíssimo que consegue estabelecer uma ligação com outro mundo. Não tendo qualquer noção do que este sinal é capaz, Josh rouba o respectivo código e utiliza-o, abrindo inadvertidamente um portal para esse novo mundo. Os seus habitantes, ao aperceberem-se da existência desta ligação, começam a utilizar as redes de comunicação implantadas na nossa sociedade para invadir o mundo que conhecemos.

Mattie é uma estudante de psicologia cuja relação com Josh passa por uma fase complicada. Após assistir ao suicídio de Josh, o mundo de Mattie entra numa espiral de morte e destruição, ocorrendo uma epidemia de suicídos causada por estes novos seres, cujo objectivo é absorver o desejo de viver dos humanos. Com o mundo moderno a entrar em colapso total, a única esperança reside num vírus que Josh estava a desenvolver para encerrar a tão temida ligação, cabendo a Mattie e Dexter, um mecânico que compra o PC de Josh após o seu suicídio, a tarefa de o tentar utilizar e salvar a Humanidade.

"Pulse" é um remake de "Kairo" e foi realizado por Jim Sonzero, sobre o qual não existe muita informação disponível, havendo apenas a indicação de outro filme a seu cargo ("War Of The Angels"). Embora tenha conseguido criar um ambiente muito bem contextualizado com a estória (acima de tudo, a filmagem de cenas em locais sem grande iluminação e a utilização maioritária de tons de cinzento), um elenco pautado por más actuações e um argumento muito fraco levam a que as personagens sejam incapazes de cativar o espectador, gerando um sentimento de indiferença ao que lhes sucede no desenrolar da estória. Felizmente, pude observar Kristen Bell (Mattie), tendo esta servido como uma espécie de distracção da má qualidade do filme.

Aproveito para deixar aqui um Shame on you! para Wes Craven, um ícone do cinema de terror que foi o autor de filmes low budget que marcaram uma era deste género, como "The Last House On The Left", "The Hills Have Eyes" e o fantástico "A Nightmare On Elm Street", que nos trouxe uma das personagens mais perturbadoras do cinema, o mítico Freddy Krueger. No entanto, nos últimos anos tem insistido em escrever péssimos argumentos e realizar filmes nada condizentes com o seu legado.

Diria que se trata de um daqueles filmes em que se torce pelos "maus da fita" para que tudo possa terminar o mais rapidamente possível. Apenas deve ser visto pelos curiosos e apreciadores do género, para quais parecerá, todavia, uma perda de tempo.

They want what they don't have anymore. They want life.

Pontuação global: 4,1

07 October 2007

(2000) The Irrefutable Truth About Demons


Harry Ballard é um antropologista que, paralelamente à sua carreira, investiga seitas e cultos religiosas ligadas ao ocultismo, escrevendo livros e artigos que as denunciam como instituições fraudulentas que se aproveitam de pessoas inseguras e emocionalmente debilitadas. A sua determinação na denúncia destes cultos acentuou-se a partir do momento em que o seu irmão, Richard Ballard, se suicidou após ter abandonado uma seita ligada ao ocultismo, magia negra e adoração de demónios.

A sua vida altera-se drasticamente no dia em que recebe no seu gabinete uma misteriosa cassete de vídeo no interior de um envelope com sangue, contendo esta uma gravação de Le Valliant, o líder de uma seita ligada ao oculto denominada Black Lodge. No decurso da gravação, Le Valliant dirige-se aos seus discípulos, incitando-os para a necessidade de perseguir e esclarecer Ballard acerca das supostas mentiras que publicou em livros seus relativamente à existência de demónios e de almas nos seres humanos.

Vendo-se subitamente envolvido numa série de acontecimentos que o deixam afectado física e psicologicamente, a sua única esperança de esclarecer tudo o que lhe está a acontecer acaba por residir numa peculiar jovem chamada Bennie, que não é aquilo que aparenta ser.

"The Irrefutable Truth About Demons" foi a primeira longa-metragem de Glenn Standring, o principal responsável por "Perfect Creature", no qual participou como realizador e argumentista. Neste caso, o argumento foi também ele escrito pelo próprio Standring e conta uma estória interessante quanto baste para nos manter interessados no seu desenvolvimento no decurso do filme. O final poderá parecer algo confuso, mas encaixa bastante bem no tom geral do filme e faz algum sentido, tendo em conta a informação que vai sendo revelada ao longo da estória.

O único elemento do elenco que destaco é Karl Urban (Harry Ballard), a figura principal da estória. Urban tem um desempenho razoável e consegue trazer alguma credibilidade à personagem, embora vacile com facilidade em momentos de maior intensidade emocional. É um actor com um percurso algo discreto e quase sempre associado a filmes de ficção científica e de acção, embora nunca tenha tido a oportunidade de desempenhar um papel verdadeiramente forte. Fico à espera que possa demonstrar o seu talento no futuro próximo.

Este filme é um bom b-movie dentro do estilo a que as produções de baixo custo provenientes da Austrália e da Nova Zelândia já nos habituaram no passado. O processo completo de produção do filme durou apenas seis semanas, o que traz ainda mais valor ao produto final, sendo bastante satisfatório e cumprindo o seu objectivo de entreter um espectador durante cerca de 90 minutos.

Hope can be dangerous.

Pontuação global: 4,7

06 October 2007

(2007) Flight Of The Living Dead


Um normal vôo comercial entre Los Angeles e Paris transporta um contentor especial no seu porão. O Dr. Leo Bennett, o encarregado do contentor e procurado pelo governo americano, mantém no interior do contentor o corpo inanimado da Dra. Kelly Thorp, uma colega de trabalho que foi deliberadamente infectada com um vírus modificado geneticamente cujo modus operandi consiste em provocar a morte de um organismo biológico, procedendo de seguida à restauração do seu funcionamento por um período de tempo indeterminado.

Quando o avião atravessa uma tempestade violenta, a instabilidade advinda das condições atmosféricas leva à abertura do contentor, libertando a Dra. Thorp que se transforma num zombie após ser alvejada e morta pelo guarda destacado para vigiar o contentor. A propagação da infecção pelos passageiros do vôo tem assim início, desenrolando-se uma luta pela sobrevivência num espaço fechado e sem qualquer saída.

Flight Of The Living Dead contém personagens para todos os gostos, como uma freira, as hospedeiras (peço perdão, assistentes de bordo) tipicamente atraentes, o piloto à beira da reforma, o cientista sem princípios, os casais de jovens atrevidos e brincalhões, um craque do golf, um scam artist a ser acompanhado por um agente da polícia, etc. Esta diversidade aparenta ter sido resultante de uma tentativa de mostrar quais seriam as reacções de indivíduos com diferentes backgrounds à situação com que são confrontados nesta estória.

Scott Thomas é o realizador de serviço, cujo discreto percurso faz com que este filme seja, muito provavelmente, o segundo melhor da sua carreira, com o primeiro lugar a ser ocupado por Anacardium, vencedor do prémio de melhor longa-metragem do conhecido New York International Independent Film & Video Festival em 2002. Dado que o nível das actuações variou entre o mau e o bastante aceitável, nenhum dos actores merece qualquer destaque especial, à excepção de Kristen Kerr, uma das hospedeiras de serviço (confesso que não pelo nível da sua actuação, mas pela sua aparência física).

Como conclusão, afirmo sem grandes reservas que é um bom filme de zombies. Os fãs do género não ficarão desiludidos e não darão por perdidos os cerca de 90 minutos de duração do filme. Uma boa forma de descrever este filme seria afirmando que se trata de divertimento puro e sem complicações associadas.

You thought it was me gnawing on the passengers?
Nah, I'm a vegetarian.


Pontuação global: 5,0

30 September 2007

(2006) The Kovak Box




Por vezes estreiam em Portugal filmes que passam completamente despercebidos ao público. The Kovak Box é provavelmente um deles. Tendo estreado num número muito limitado de filmes, decerto que poucos foram aqueles que o foram ver.

The Kovak Box conta-nos a estória de David Norton, um escritor de ficção científica, convidado a dar uma conferência na ilha de Maiorca. Mas a sua vida vai ficar abalada quando a sua namorada se suicidado sem qualquer tipo de explicação. Ao tentar sair da ilha, apercebe-se que há alguém que o quer lá manter. Ao conhecer Sílvia, uma jovem que também tentou cometer suicídio, apercebe-se que houve vários casos semelhantes nos últimos dias. Os dois vão então tentar descobrir quem está por detrás de tudo isso, e quais as suas intenções.

Estamos perante um filme europeu que conta com a presença de vários actores americanos. Não esperem acção frenética ou explosões por todo o lado. Mas há que dizer que as actuações estão boas embora não brilhantes. Igualmente boa está a estória e a forma como ela flui, nunca sendo revelado mais do que o necessário para que o espectador compreenda o que se está a passar, mas sem que seja desvendado o desfecho do filme.

O final do filme é interessante e fica-lhe bem, embora possa parecer que teria ficado uma cena por mostrar (é necessário saber apreciar este tipo de coisas no cinema europeu).

Sem querer revelar mais acerca do filme, tenho de acrescentar que se trata de um filme que vale a pena o dinheiro gasto no bilhete. Sem falhas de maior, trata-se de um filme muito sólido que vem dar um pouco de cor ao verão pobre no que diz respeito a cinema.

Pontuação global: 8,0

25 September 2007

(1987) The Princess Bride


Hoje, 25 de Setembro de 2007, marca o 20º aniversário da estreia do filme The Princess Bride ("A Princesa Prometida"). Achei ser uma boa altura para fazer um comentário a este filme que parece permanecer relativamente desconhecido em Portugal.

Este filme é uma adaptação cinematográfica da novela homónima de William Goldman, e o screenplay é do próprio autor, função que já desempenhou em grandes filmes como All the President's Men (1976), Marathon Man (1976) e Misery (1990).

A realização é de Rob Reiner. Este realizador tem alguns clássicos no seu currículo, como This Is Spinal Tap (1984), Stand by Me (1986), Misery (1990) e A Few Good Men (1992). Mas, por alguma razão, só consigo pensar nele como o Meathead de All in the Family.

A estória é-nos apresentada através da leitura de um conto de fadas, narrado por um avô ao seu neto, que está doente. O conto de fadas é clássico: O poder do amor, príncipes maus, espadachins, gigantes, anões, monstros e feiticeiros. Curiosamente, não inclui fadas.

Peter Falk é o avô e narrador da história. Parte de mim estava sempre à espera que ele vestisse a gabardina, metesse um charuto na boca e dissesse ao neto "Oh, one more thing..." antes de o prender.

Fred Savage é o neto. A sua atitude ao longo da narrativa espelha a das pessoas que vêm o filme: Inicialmente mostra desinteresse (pois, afinal, quem quer ouvir mais um conto de fadas?), mas rapidamente começa a ficar embrenhado na estória, querendo saber o que irá acontecer no próximo capítulo.

Cary Elwes é Westley, o simples e corajoso rapaz do campo que é herói em tantas estórias deste género. O actor esteve bem neste papel, o que talvez tenha levado à sua escolha para representar a versão humorística de Robin Hood (um herói similar) em Robin Hood: Men in Tights (1993).

Robin Wright Penn é a bela Buttercup, a "princesa" que dá o título ao filme. Costumo pensar nesta actriz apenas como a Mrs. Penn, pois ela não costuma dar muito nas vistas. Creio que só a vi em dois outros filmes: Forrest Gump (1994) e Unbreakable (2000).

Os vilões principais são o Principe Humperdinck (Chris Sarandon), que quer casar com Buttercup por razões políticas, e o Conde Tyrone Rugen (Christopher Guest), cujo hobby principal parece ser a tortura.

As personagens mais coloridas são provavelmente o trio de mercenários: Vizzini (Wallace Shawn), o pequeno homem com grande cérebro, que acha inconcebível haver alguém mais esperto que ele; Inigo Montoya (Mandy Patinkin), o espadachim honrado que procura o homem que matou o seu pai; e Fezzik (André the Giant), o gigante (literalmente) de bom coração e com talento para rimas. Apesar de parecer não ter muito jeito para actor, acho que não poderiam ter feito melhor escolha.

Há ainda duas participações curtas que realço: Billy Crystal, quase irreconhecível no papel de Miracle Max; e o lendário comediante Peter Cook, como um membro do clero com um leve problema de fala.

Não esperem grandes efeitos especiais, drama intenso ou muitas gargalhadas. Esperem um conto de fadas clássico. E talvez assim se venham a sentir um pouco como o neto.

Pontuação global: 7,9

Scaling the Cliffs of Insanity,
Battling Rodents of Unusual Size,
Facing torture in the Pit of Despair.
True love has never been a snap.

08 September 2007

(1992) Glengarry Glen Ross


Uma agência de venda de terrenos localizada em Chicago atravessa momentos complicados devido às circunstâncias menos favoráveis em que o seu mercado alvo se encontra envolto. Numa tentativa de melhorar os rendimentos do seu departamento de vendas, os seus donos, Mitch e Murray, promovem uma pequena sessão de incentivo num dos escritórios de vendas. Esta pequena palestra é dada por Blake, um funcionário da firma, sendo o seu público os quatro vendedores de serviço (Ricky Roma, Dave Moss, Shelley Levene e George Aaronow). É-lhes apresentada uma nova adição ao concurso de vendas que decorre actualmente no escritório. Os dois primeiros prémios são os mesmos, ou seja, os funcionários com o maior valor acumulado de vendas são presenteados com um Cadillac Eldorado e um conjunto de facas de carne, respectivamente. O terceiro prémio é o despedimento imediato.

Todos os vendedores são assim obrigados a conseguirem o maior número possível de vendas com base em pistas antigas e fracas, com o vencedor do concurso a ser premiado com as novas pistas de elevado valor denominadas Glengarry (neste contexto, pistas são cartões com nomes e contactos de pessoas que terão a capacidade financeira para se tornarem potenciais compradores de terras, caso sejam convencidos a isso pelos vendedores que as contactam). Os vendedores vêem-se subitamente pressionados para serem bem sucedidos, sendo a situação em si adicionalmente potenciada não só pelos seus problemas pessoais e profissionais, mas também pelos objectivos e intenções pessoais de alguns deles.

"Glengarry Glen Ross" é baseado na aclamada peça de teatro de David Mamet, com a qual venceu um prémio Pulitzer. Mamet é um argumentista e realizador brilhante cuja imagem de marca é a forma dura e directa com que as suas personagens interagem com o meio em que se encontram inseridas por intermédio de diálogos rudes e magnificamente elaborados, tornando-as extremamente credíveis e plausíveis. Muitos apontam a utilização excessiva e desnecessária de palavrões por parte de Mamet neste filme, e na sua escrita em geral. Mas esta questão parece-me perfeitamente justificada, contribuíndo para a contextualização das estórias e a sua aproximação ao que nós consideramos "real". É uma imagem de marca de Mamet e este é globalmente considerado como um dos maiores escritores vivos de peças e argumentos na língua inglesa. Esta estória contém algumas das melhores personagens do cinema produzido no decurso do século XX.

Com o próprio Mamet encarregue de adaptar a sua peça para o grande ecrã, a realização ficou a cargo de James Foley, um realizador com uma carreira muito discreta e ao longo da qual apenas consigo destacar Confidence para além deste filme. Neste caso específico, fez um excelente trabalho ao orientar de forma brilhante um elenco recheado de estrelas, o que nem sempre é trivial de conseguir. A iluminação é excelente e o trabalho efectuado com as cameras é simplesmente fantástico, com uma utilização quase deliciosa de diferentes ângulos que permitem ampliar os desempenhos dos vários actores, salientando pormenores específicos nas cenas apresentadas.

É bastante interessante que Foley nunca se tenha tornado num dos realizadores de primeira categoria em Hollywood após ter criado este filme soberbo. Existem algumas teorias da conspiração relativamente a este assunto e, pessoalmente, concordo com duas delas. A primeira refere que Mamet terá participado activamente na realização do filme, não se tendo restringido à escrita do guião; a segunda aponta para uma liberdade quase total dos actores para desempenharem os respectivos papéis, visto que apenas Pacino e Baldwin nunca tinham participado na peça de teatro.

O elenco é apenas um dos melhores alguma vez colocado à frente de uma camera e os seus protagonistas são os seguintes:
  • Al Pacino é Ricky Roma, um homem arrogante e frontal cuja capacidade de conversação claramente acima da média faz dele o melhor vendedor do escritório. Mantém sempre algum distanciamento dos restantes vendedores do escritório. Um excelente papel deste "monstro" do cinema que lhe valeu uma nomeação para um Oscar de Melhor Actor Secundário.

  • Jack Lemmon é Shelley Levene, um vendedor cuja alcunha é The Machine. Embora seja uma espécie de herói local no departamento de vendas, a sua capacidade empreendedora encontra-se numa curva acentuadamente descendente e, ao ser confrontado com a possibilidade de vir a ser despedido, entra em pânico, visto que necessita de dinheiro para pagar o internamento da sua filha numa instituição médica. Lemmon era um actor com um talento natural para papéis dramáticos e aqui teve a oportunidade de representar uma personagem à sua medida. É o segundo melhor desempenho do filme e acaba por ser a figura central de todo o enredo.

  • Kevin Spacey é John Williamson, o chefe do escritório e responsável por todo o trabalho administrativo e burocrático associado à venda de terrenos. Sem qualquer experiência em vendas, é constantemente insultado e humilhado pelos seus supostos subordinados por não ser mais do que uma marioneta dos seus chefes. Um óptimo desempenho de um grande actor que estava a começar a despontar no grande ecrã aquando do lançamento deste filme.

  • Ed Harris é Dave Moss, um homem revoltado e frustrado com a sua situação actual e capaz de praticamente tudo para satisfazer os seus objectivos e desejos pessoais. Encontra-se à beira de uma explosão emocional por não ser muito bem sucedido a nível profissional. Um desempenho extremamente forte e intenso na representação de um homem cuja forma de ser assenta no ódio.

  • Alec Baldwin é Blake, um motivador a quem é pedido que dê uma pequena palestra aos funcionários do escritório de vendas retratados nesta estória, com o objectivo de os encorajar a vender propriedades. Baldwin surge em apenas uma cena do filme cuja duração é aproximadamente sete minutos, mas consegue ser o melhor desempenho do filme e, curiosamente, tem aqui a melhor representação de toda a sua carreira. O seu discurso é ofensivo, rude, violento, provocador e incendiário. É simplesmente fantástico e eu arriscaria mesmo a dizer que é um dos melhores desempenhos de sempre captados em filme.

  • Alan Arkin é George Aaronow, a personagem mais caricata da estória. É um vendedor inseguro, indeciso e desmotivado e que tem a tendência irritante de repetir tudo o que lhe é dito por outras pessoas. Profissionalmente, é um caso perdido, nunca tendo sido bem sucedido e sem qualquer hipótese de o vir a ser num futuro próximo ou distante. O recém-vencedor de um Oscar tem aqui um excelente papel.

Não tendo conhecimento da forma de funcionamento das escolas de cinema mais prestigiados nos E.U.A., penso que este filme deveria ser considerado um exemplo a seguir e mostrado a todos os alunos que sejam aspirantes a argumentistas e actores. Em suma, um filme fantástico que fará para sempre parte da minha lista de favoritos, não apenas pela qualidade do filme em si, mas acima de tudo pelo argumento fantástico e as actuações maravilhosas do elenco.

You got leads. Mitch and Murray paid good money. Get their names to sell them. You can't close the leads you're given, you can't close shit, you are shit! Hit the bricks, pal, and beat it, 'cause you are going out!

Fuck you... that's my name! You know why, mister? 'Cause you drove a Hyundai to get here tonight. I drove an $80.000 BMW. That's my name!

Pontuação global: 8,1

02 September 2007

Is Deckard a Replicant?



Antes de começar tenho de alertar que o texto que se segue tem spoilers sobre o filme Blade Runner.




Como já tinha escrito na review do filme, várias pessoas têm diferentes interpretações do filme Blade Runner. Uma das diferenças é a própria personagem principal (Deckard), ficando a dúvida se ele é ou não um replicant. Segundo Ridley Scott, Deckard é um replicant, e foi de sua intenção deixar pistas no filme, que levassem o espectador a chegar a essa conclusão ou pelo menos, que questionassem a sua humanidade. Os principais indícios são:

- Numa fala de Gaff, na qual ele diz a Deckard “You've done a man's job, sir!”
- Deckard nunca chega a responder à pergunta de Rachel: Have you done the test.
- Na versão director's cut, a meio do filme Deckard sonha com um unicórnio, e no final, quando ele sai do seu apartamento com Rachel, ele repara que está no chão um origami de um unicórnio deixado por Gaff.
- O motivo de Roy ter salvo Deckard no fim do filme pode ter sido por ele ter descoberto que Deckard é um replicant como ele.

O principal argumento de quem defende que Deckard é um replicant está nas cenas adicionais da versão director's cut, que apontam claramente para que ele seja replicant. No entanto há vários argumentos que sugerem o contrário, entre ele:

- No livro de Philip K. Dick que deu origem ao filme, Deckard é humano.
- Não há replicants na Terra (Rachel é um modelo experimental).
- Deckard é fisicamente mais fraco que os outros replicants.
- No filme, todos os replicants são tratados pelo seu primeiro nome (ex: Roy, Rachel) enquanto que os humanos são tratados pelo seu apelido (ex: Sebastian, Tyrell).

O facto de no livro Deckard ser humano sem qualquer sombra de dúvida é o principal argumento de quem defende que Deckard é humano. No entanto, visto que o filme não é uma adaptação da estória do livro, acho que esse argumento não deve ser levado em consideração. No entanto Deckard é-nos apresentado como humano, e se as pistas apresentadas durante o filme não forem suficientemente fortes para levarem o espectador a mudar de opinião, então Deckard é humano. Mas serão insuficientes?

Face a estes argumentos, todos concordamos numa coisa: não é claro se Deckard é ou não um replicant. Como tal, cada um deve decidir por si qual a posição que defende: Deckard é um replicant, Deckard não é um replicant, ou finalmente, o importante é que seja lançada a dúvida. Quem ganha com esta discussão é a obra de Dick, pois o filme cumpre o mesmo objectivo do seu livro: questionar acerca do que é a humanidade.

26 August 2007

(2006) Perfect Creature


Ao longo de 300 anos, a raça humana foi confrontada com uma série de pragas à escala mundial, constituídas por doenças resultantes das experiências de cientistas conhecidos como alquimistas. Perante a possibilidade de controlarem o conceito de vida e de assumirem o papel de Deus, os alquimistas deram início a uma era de ciência genética, da qual resultaram, não só as doenças, mas também algo que nunca havia sido contemplado. Uma das ditas pragas levou ao surgimento de um novo ser que era conhecido como nosferatu e temido pela sociedade. Ao contrário da crença comum, estes seres não eram monstros, mas sim uma evolução genética do ser humano.

O alquimista Giuseppe Di Angelo foi o pioneiro da ciência genética e afirmou que os nosferatu eram uma nova espécie de seres enviada por Deus para servir e proteger a raça humana. Isto levou à união destes seres e à criação de uma ordem religiosa, passando então a ser conhecidos como The Brothers. A orientação espiritual fornecida por esta ordem religiosa, assim como os seus vastos conhecimentos científicos, foram colocados ao dispôr da civilização humana com o intuito de a proteger das pragas ainda existentes.

Durante 300 anos, estas duas raças viveram em harmonia. O sangue necessário para a sobrevivência dos Brothers era voluntariamente fornecido pelos humanos e nunca se havia registado qualquer ataque a um humano. No entanto, numa versão alternativa da nossa década de 60 do século XX, tudo mudou quando Edgar, um brilhante Brother que se encontrava a trabalhar numa vacina para a actual onda de influenza, decide abandonar uma existência de reclusão e dedicação à sociedade humana para dar início a uma onda de mortes que põe em causa a confiança que havia sido arduamente construída entre as duas raças.

O seu irmão de sangue, Silus, é destacado pela ordem para capturar Edgar e impedir que o massacre de inocentes continue, garantindo simultaneamente a preservação da relação de convivência existente entre humanos e Brothers. Silus forma uma aliança com Lilly, uma solitária e atraente detective da polícia que foi destacada para os casos relativos aos sucessivos homicídios cometidos por Edgar. Com o desenrolar da estória, Silus começa a aperceber-se das verdadeiras intenções de Edgar e da ordem religiosa da qual fazem parte.

"Perfect Creature" é apenas a segunda longa-metragem de Glenn Standring, um realizador neo-zelandês relativamente desconhecido. Este filme é mais uma prova que, sem grandes nomes no elenco e com um orçamento relativamente modesto, é possível fazer um bom filme. O argumento, escrito pelo próprio Standring, consegue ser bastante original e relativamente consistente. Algumas das questões levantadas ao longo do filme poderiam ter sido exploradas um pouco mais exaustivamente, embora não tenha afectado muito a estória.

Quanto ao elenco, refiro apenas as três personagens principais do filme. Dougray Scott (Silus) tem um desempenho sólido e credível. A luta interna contra uma onda de novos sentimentos que advêm de toda a situação em que subitamente se vê envolvido é bastante bem retratada. Saffron Burrows (Lilly) esteve também em bom plano, representando uma mulher dura, enquanto agente da polícia, mas simultaneamente frágil e profundamente afectada pela perda da filha devido às constantes doenças que assolam a sociedade em que vive. Para terminar, não posso afirmar que tenha apreciado o desempenho de Leo Gregory (Edgar), pois pareceu-me insistir em momentos de overacting para exprimir a instabilidade emocional da personagem.

Pontuação global: 7,1

23 August 2007

(1982) Blade Runner




Blade Runner é um filme de Ridley Scott baseado no romance de Philip K. Dick Do Androids Dream of Electric Sheep? Não se trata de uma adaptação, pois há grandes diferenças entre as duas estórias.

A estória do filme desenrola-se num universo futurista numa cidade com um clima húmido e sombrio. A Tyrell Corporation desenvolve andróides idênticos a seres humanos, impossível os distingur fisicamente dos humanos. Esses andróides designam-se de Replicants. Esses replicants são usados como mão de obra escrava nas colónia espaciais. As unidades Blade Runner são a unidade da polícia responsável por eliminar qualquer replicant que se encontre em fuga. “This was not called execution. It was called retirement.”

Rick Deckard, um ex Blade Runner é contactado pelo seu antigo chefe (Bryant) para voltar ao trabalho na caça de 4 replicants em fuga. É ele o personagem principal (tanto no livro como no filme) sendo ele que vai narrando a acção nos momentos mais calmos do filme.
Rachel é uma replicant experimental a trabalhar para a Tyrell Corporation. Tendo sido implantada com memórias, foi-lhe escondida a sua verdadeira natureza: o facto de ser replicant.
Roy Batty é o líder dos replicants em fuga. Foi desenhado para defesa das colónias. Forte e dotado de uma inteligência superior, não vai parar até conseguir os seus objectivos.

Todos os personagens estão soberbamente interpretados e a forma como a estória é contada leva a que várias interpretação sejam feitas.

Os cenários estão fantásticos, com a cidade num mundo sombrio, que intensifica o drama vivido pelos personagens. A banda sonora ajuda igualmente a esse efeito, não sendo necessário muito esforço para perceber os sentimentos que as melodias pretendem realçar.

Embora diferentes, filme e livro têm a mesma premissa: replicants em fuga, e um Blade Runner que os pretende retirar. O drama da acção é contado em primeira pessoa tanto no livro como no filme, mas no filme os replicants têm um maior destaque do que aquele que têm no livro, em detrimento do personagem principal (Deckard). Mas embora diferentes, as questões levantadas são as mesmas: o que é a humanidade? até que ponto podem as máquinas ser humanas? qual a fronteira entre o natural e o artificial? que são na verdade a essência da obra de Dick. Por esse motivo, este filme é uma boa “conversão” desse obra para o grande écran.

A estória aliada à proeza técnica, fazem com que este filme assuma o estatuto de obra de arte. As interpretações aos personagens e ao filme em si, conferem-lhe o estatuto de filme de culto.

Pontuação global: 10,0

(2007) Ratatouille



De cada vez que os estúdios Pixar lançam um novo filme, penso que talvez seja esse que me irá desiludir. E de cada vez, a Pixar mantém um nível de excelência que, a meu ver, os torna num dos melhores estúdios da actualidade.

Ratatouille conta a estória de Remy, um rato que tem um olfacto e paladar mais refinados do que é típico naquela espécie. Inspirado pelo famoso chef Gusteau, Remy deseja ser cozinheiro. No entanto, como seria de esperar, este sonho é difícil de realizar, pois ratos não são uma presença aceite em cozinhas.

Brad Bird volta como argumentista e realizador, tal como fez em The Incredibles. O argumento é o típico de filmes da Pixar, abordando temas como a auto-ajuda, o seguir dos sonhos, o valor da amizade, a importância da família, etc. Sim, nada de novo, mas é muito bem conseguido.

As vozes estão bem conseguidas. Gostei especialmente da do crítico de gastronomia Anton Ego (cuja voz é dada pelo venerável Peter O'Toole). Aliás, achei a personagem em si uma das mais interessantes, bem conseguidas e surpreendentes de todo filme.

Tecnicamente, o filme cumpre as espectativas. A animação mantém a qualidade a que a Pixar já nos habituou. No final dos credits afirmam, com orgulho, "100% computer animation, no motion capture involved". As expressões faciais e os gestos das personagens são deliciosos.

Digno de nota é Lifted, o short da Pixar que, mantendo a tradição, é mostrado antes do filme. Uma ideia simples e divertida que funciona muito bem.

Espero agora ansiosamente pelo próximo filme da Pixar, Wall-E, agendado para 2008. Deram-nos um curto teaser antes do filme começar, mas já foi o suficiente para eu começar a pensar se será desta que vou ficar desiludido... Espero que não.

Pontuação global: 8,7

Anyone can cook!

18 August 2007

(2006) Turistas


"Turistas" conta a estória de Alex Trubituan, que, devido a pressões familiares, se vê forçado a acompanhar a sua irmã, Bea Trubituan, e uma amiga, Amy Harrington, num período de férias no Noroeste do Brasil. Após um acidente que envolveu o autocarro em que viajavam, conhecem outros turistas estrangeiros que se encontram a visitar o país, nomeadamente a já muito viajada Pru Stagler e dois amigos ingleses, Finn Davies e Liam Kuller.

Frustrados com o tempo de espera até ao próximo autocarro para poderem prosseguir as suas viagens, decidem aventurar-se pelo meio do mata até que encontram uma pequena praia paradisíaca com um bar acolhedor. Após um dia repleto de bebida, festa e socialização com os habitantes locais, acordam no dia seguinte na praia sem qualquer recordação do que se passou na noite anterior e constatam que todos os seus pertences foram roubados, tendo apenas restado as poucas peças de roupa que têm vestidas. Tinham acabado de ser o alvo de um golpe conhecido como "Bom-dia, Cinderela!", que consiste em "enriquecer" as bebidas de turistas incautos com diversas drogas (Dormonid, Lorax, etc.).

Com o intuito de tentarem descobrir uma esquadra da polícia para participar o assalto, dirigem-se para uma pequena vila na qual entram em conflito com os seus habitantes. Kiko, um jovem que haviam conhecido no decurso da festa, ajuda-os a escapar de uma situação potencialmente explosiva e oferece-lhes abrigo numa casa isolada que um tio seu tem no meio da floresta que circunda a vila. Perante a possibilidade de poderem aguardar em segurança pelo próximo autocarro que os levará para longe daquele local, o grupo aceita a proposta de Kiko. No entanto, as intenções do tio de Kiko, o Dr. Zamora, começam a ser lentamente reveladas.

John Stockwell é um realizador que não apresentava um currículo exactamente brilhante antes da sua participação neste filme e em nada veio contribuir para o abrilhantamento da sua carreira actual. A estória apresenta falhas óbvias e é muito pouco consistente, o que impede que se encarem os acontecimentos retratados como algo que poderia acontecer na vida real. Como atenuante, deve ser dito que este filme é mais um exemplo evidente de má promoção por parte dos estúdios de Hollywood. Não se trata de um filme de terror, com imenso gore e slashers à mistura, nem de uma espécie de copycat do "Hostel", mas sim de um thriller cuja premissa se baseia em elementos provenientes de diversas situações que são infelizmente reais.

Quanto ao elenco, começo por referir Josh Duhamel (Alex Trubituan). Quem é que disse a este jovem que ele era um actor? Das entrevistas a que tive a oportunidade de assistir, fiquei com a sensação de que se trata de uma pessoa simpática e extrovertida, mas talento... não. Dado que os restantes elementos do elenco não queriam que Josh fizesse má figura, mantiveram o nível de actuação estabelecido por este último. Felizmente, Olivia Wilde (Bea Trubituan) e Beau Garrett (Amy Harrington) foram capazes de me distrair da insipidez global dos desempenhos deste elenco com a inegável qualidade dos seus atributos físicos.

A moral da história é não passar férias no Brasil apenas porque conseguiram viciar a votação das novas 7 maravilhas do mundo, levando à inclusão do Cristo Redentor na lista final.

Pontuação global: 4,4

12 August 2007

(2007) Dead Silence


Jamie e Lisa Ashen são um casal cuja vida muda drasticamente na noite em que deixam à porta do seu apartamento um embrulho misterioso endereçado a Jamie cujo conteúdo consiste num boneco de ventriloquista. Acedendo aos desejos alimentares da sua esposa, Jamie sai para comprar o jantar num restaurante chinês. Durante esse período, Lisa é brutalmente assassinada no apartamento. Sem qualquer alibi a seu favor, o detective responsável pelo caso, Jim Lipton, considera de imediato Jamie como o principal suspeito.

Dada a coincidência do aparecimento do boneco e da morte da sua esposa, Jamie decide seguir o seu instinto e baseia-se numa velha estória de fantasmas para encontrar o verdadeiro responsável pelo assassinato de Lisa. Como tal, decide regressar à pequena terra de onde é oriundo, Ravens Fair, com o intuito de recolher provas que lhe permitam reclamar inequivocamente a sua inocência. Após a sua chegada a Ravens Fair, Jamie é confrontado com indícios de que o fantasma vingativo de Mary Shaw, uma ventriloquista acusada muitos anos antes do desaparecimento de um jovem rapaz, poderá ser a verdadeira culpada do sucedido à sua mulher.

Dead Silence é o filme mais recente de James Wan, o criador da franchise do Saw (foi o realizador de Saw e co-argumentista de Saw e Saw III). Leigh Whannell participa como co-argumentista, tal como havia feito em todos os filmes da franchise do Saw lançados até ao presente momento (não participou no ainda por estrear Saw IV).

Relativamente ao elenco, nenhum dos seus elementos merece ser alvo de destaque especial. Nem Donnie Wahlberg (Jim Lipton), cujos desempenhos em Saw II e Saw III eu realcei como tendo sido muito bons, dado que a personagem do detective me pareceu um pouco descontextualizada do tom geral do filme e algo difícil de enquadrar na disposição definida para o restante elenco. Bom, acho que posso abrir uma excepção para Amber Valletta (Ella Ashen). Tem um papel relativamente curto, mas importante no desenrolar da estória... e é uma mulher lindíssima.

Os principais motivos que me levaram a ver o filme foram o tópico abordado (tenho algum receio inato de bonecos e marionetas) e o facto de ser realizado e escrito pela dupla já referida. No entanto, não posso esconder alguma desilusão com o filme. Partindo de um conceito interessante, Whan e Whannell não foram capazes de construir uma estória sólida, sendo facilmente encontrados erros de continuidade e estando esta repleta de clichés, associados há muito ao cinema de terror, utilizados de uma forma algo despropositada. No final do filme, pude constatar a presença do que começa já a ser uma imagem de marca desta dupla. Aqueles que viram, pelo menos, o primeiro Saw concerteza saberão do que estou a falar.

Beware the stare of Mary Shaw
She had no children, only dolls
And if you see her in your dreams
Be sure you never, ever scream


Pontuação global: 6,1

07 August 2007

(2007) The Simpsons Movie – O meu reino por um donut!



Foi necessário esperar mais de 15 anos para que a série de televisão The Simpsons tivesse uma versão no grande écran. No entanto a espera valeu a pena, pois trata-se de um filme bem conseguido.

The Simpsons Movie tem provavelmente um dos melhores começos da história do cinema, ao qual não falta a habitual intro da série animada. Spoilers Trata-se de uma menção a todos os que estão na sala, pois podiam ter ficado em casa e viam o mesmo, o que no fundo é a verdade.
Fim de Spoilers

O filme conta-nos a estória do lago de Springfield, super-poluído ao ponto do mínimo despejo ilegal ir causar uma calamidade. Claro que a calamidade vai mesmo acontecer, devido ao Sr. Homer Simpson (como não podia deixar de ser), apesar de todas as medidas tomadas para evitar mais despejos. É então que nos é contado o que vai acontecer à família Simpson e a Springfield, cujo destino está nas mãos do presidente dos Estados Unidos, alguém que nunca pensaríamos que ocuparia esse cargo.

A estória desenrola bem, não se notando muito o tempo a passar, e tal como na série, no final é contada mais uma aventura da família Simpson. No entanto o filme não passa de uma aventura mais alargada, e questionamo-nos se terá valido a pena o esforço.

No que diz respeito à animação, há alguns planos inovadores em relação à série: o 3D. Os personagens estão lá todos, se bem que Bart está um pouco “out of character”. Mas no que diz respeito ao humor, este continua tipicamente Simpsons.

No geral trata-se de um filme sólido e com o qual podemos contar para passar uma boa hora e meia.

Pontuação global: 7,0

30 July 2007

(2006) Children of Men



Em 2027, um jovem com 18 anos é assassinado. Isto não seria notícia, senão pelo facto de ele ser a pessoa mais jovem do planeta.

Realizado por Alfonso Cuarón, Children of Men decorre num futuro apocalíptico no qual a Humanidade se tornou infértil. Poluição? Experiências genéticas? Cólera divina? Sem respostas, e sem perspectivas de futuro, a sociedade colapsa. Como se vê escrito numa parede: The last one to die please turn out the light.

A estória desenrola-se no Reino Unido, talvez o último local onde ainda existe alguma forma de governo, que vive sob um regime fascista onde os imigrantes e refugiados são perseguidos, tudo em nome da Homeland Security. Quaisquer semelhanças com Auschwitz, Abu Ghraib ou Guantánamo não são pura coincidência. Tal como as melhores estórias sobre futuras distopias, esta tem uma mensagem actual.

Clive Owen é Theo Faron, um antigo activista político que é contactado pela sua mulher, Julian (papel desempenhado por Julianne Moore), para que obtenha documentação que permita a fuga a uma jovem refugiada africana, Kee (papel desempenhado por Claire-Hope Ashitey), para um barco-refúgio ao largo da costa.

A importância da missão só se torna patente quando nos apercebemos que Kee está grávida, e que o nascimento da criança pode dar respostas que permitam assegurar o futuro da Humanidade.

O elenco porta-se bem, mas não quero dedicar-lhe mais tempo desta review, além de dedicar uma menção honrosa à participação do grande Michael Caine, que desempenha o papel de Jasper, um amigo de Theo.

O que gostaria de realçar neste filme é o excelente trabalho de câmara, algo que já se tornou numa trademark de Cuarón.

Numa época onde filmes de acção são frequentemente filmados com cuts frenéticos (sim Michael Bay, estou a falar contigo), as cenas contínuas e Children of Men são imensamente poderosas e verdadeiras proezas técnicas. Sinto-me obrigado a mencionar as duas mais marcantes (sem spoilers, espero):
  • A emboscada na estrada é uma única cena de 4 minutos, com a câmara a rodar, a entrar e a sair do carro. Um veículo especial teve que ser construído para permitir todos estes movimentos da câmara sem recorrer a cortes.

  • A corrida pela cidade em guerra é uma única cena que dura uns espantosos 8 minutos (!), com a câmara a entrar e a sair de edifícios, com tiros e explosões a toda a volta. O efeito final é uma sequência que lembra um documentário filmado numa zona de guerra.

Em abono da verdade, devo apontar que estas cenas não foram todas filmadas num único take. Há algum CGI envolvido para ligar vários takes no que aparenta ser uma única cena contínua. No entanto, isto não reduz o impacto do efeito conseguido.

Pontuação global: 8,3

The future is a thing of the past

22 July 2007

(2006) El Laberinto del Fauno


El Laberinto del Fauno decorre no ano de 1944, quando a Espanha se encontrava no período pós-guerra civil e em pleno regime fascista de Franco. Ofelia é uma pequena rapariga com uma imaginação fértil e fascinada com contos de fadas que, juntamente com sua mãe Carmen, que se encontra doente devido à gravidez que atravessa, se prepara para ir viver com o seu padrasto Vidal, um cruel e sádico capitão do exército espanhol, numa zona rural no norte de Espanha. O destacamento militar onde ambas ficam instaladas está envolvido numa guerra com um grupo de guerrilheiros rebeldes que se encontra refugiado nas montanhas.

Durante a primeira noite na sua nova residência, Ofelia conhece um ser, que ela crê ser uma fada, que a leva ao centro de um velho labirinto onde conhece o Fauno, um ser velho e sábio cujas verdadeiras intenções são difíceis de decifrar. Este começa por esclarecer Ofelia que ela é a reincarnação da princesa Moanna, a filha há muito perdida do rei do mundo subterrâneo. No entanto, para comprovar que a sua essência original está intacta e que não se tornou uma mera mortal, o Fauno requere a Ofelia que complete três provas difíceis e perigosas antes da chegada da lua cheia. Caso falhe, não conseguirá provar a sua natureza real e será impedida de reunir-se novamente com o seu verdadeiro pai, o rei.

Ivana Baquero (Ofelia), Sergi López (Capitán Vidal) e Doug Jones (Fauno) são as referências de um elenco que, no seu todo, esteve excelente na retratação de um grupo de personagens peculiar e bastante distinto. A jovem Ivana deu vida a uma personagem cuja idade precoce não inibe a presença de uma enorme complexidade emocional que se vai manifestando progressivamente com o decorrer do filme e juntamente com os desafios que enfrenta para provar a sua realeza. Com apenas 12 anos de idade, Ivana demonstrou uma maturidade imensa e brilhou na sua estreia num papel principal de uma grande produção internacional.

Sergi Lopéz é espantoso na caracterização do que poderíamos considerar o protótipo do militar fascista. É um actor especialista em vilões e todo o seu talento e experiência no desempenho deste tipo específico de personagens transpareceu claramente. O requinte e a intensidade com que retratou a crueldade e sadismo que constituem a própria essência do Capitán Vidal chegou a ser assustadoramente real em certos pontos do filme. Fiquem particularmente atentos a uma cena que envolve dois meros camponeses, que estão no sítio errado à hora errada, e uma garrafa...

Doug Jones começa a ser conhecido como o handyman de del Toro e tem a particularidade de, sob a alçada deste último, apenas ter representado personagens de aspecto não humano para as quais não foi necessário mostrar os seus verdadeiros traços faciais. Um outro pormenor curioso que gostaria de referir diz respeito ao facto de ter sido o único actor americano nos locais de filmagem e de não saber falar espanhol. Na prática, as suas falas no filme foram proferidos de forma fonética, sem qualquer tipo de compreensão lexical associada.

Guillermo del Toro foi capaz de criar uma fábula que aborda num ambiente fantástico um conjunto complexo de paradoxos, como amor e ódio, fantasia e realidade, ou vida e morte. Tanto o argumento como a cinematografia são irrepreensíveis e o facto de ter recorrido ao menor número possível de cenas com CGI num filme de fantasia é, por si só e principalmente nos dias que correm, um feito que merece ser salientado pela positiva. É um realizador talentoso e inteligente cuja carreira atingiu um novo patamar de qualidade com o lançamento deste filme. Até mesmo os que duvidavam da sua capacidade directiva viram-se forçados a reconhecê-lo como um dos melhores da actualidade no ramo da ficção e fantasia. Pessoalmente, gostaria apenas de referir que admiro o percurso cinematográfico de del Toro até ao presente momento e considero-o, inclusivamente, um dos cinco melhores realizadores da actualidade.

Tenho que confessar que não pude conter algumas lágrimas no final do filme. A crueldade humana atinge patamares cuja existência na sociedade em que vivemos, por muito realistas e intelectualmente sóbrios que sejamos, nos encontramos quase impossibilitados de compreender ou aceitar. Este belíssimo conto de fantasia retrata um destes casos e apresenta-se como uma obra de arte que perdurará na memória de todos os que tiverem a oportunidade de o ver.

Pontuação global: 8,8

17 July 2007

Transformers

Se os robots do filme tivessem parecidos a este, o filme estaria melhor.

14 July 2007

(2006) Night At The Museum


Larry Daley é um homem divorciado que não consegue manter um emprego por mais do que uma semana. A sua constante falta de espírito de luta, que o leva a desistir de qualquer desafio ao primeiro obstáculo que enfrenta, começa a torna-se uma fonte de constante desilusão para Nick, o seu jovem filho que vive com a ex-mulher, Erica. Perante isto, Larry relutantemente aceita um emprego como guarda nocturno no Museum of National History para poder pagar as suas contas, substituíndo os actuais três guardas.

Esta é a base de "Night At The Museum", a mais recente incursão de Shawn Levy no universo das comédias. A estória do filme gira em torno do facto de Larry, absolutamente convencido da simplicidade das funções associadas ao cargo, se aperceber logo na sua primeira noite de trabalho que, na ausência da luz do sol, os "habitantes" do museu ganham vida. O controlo do museu torna-se uma tarefa com um grau de dificuldade enorme e muitos desafios, quer profissionais quer pessoais, atravessam-se no seu caminho.

Ben Stiller (Larry Daley) é um homem que, enquanto actor, desperta sentimentos díspares nas pessoas que assistem aos seus filmes. Amado por uns e odiado por outros, neste filme tem um desempenho ao nível do que se esperaria dele. Utiliza alguns momentos cómicos recorrentes nas suas actuações (como exemplo posso referir as cenas em que mantém diálogos muito engraçados com um macaco chamado Dexter) e consegue evitar que o filme atinja, em certas partes, um estado de quase tédio. Stiller é um actor talentoso que tem um estilo de comédia muito peculiar que eu aprecio bastante.

A sexy Carla Gugino (Rebecca Hutman) tem um papel algo curto, mas esteve bem e não deve ser posto de parte o facto de ser sempre um prazer poder simplesmente olhar para ela. Owen Wilson (Jedediah) e Steve Coogan (Octavius) são os líderes das facções de cowboys e romanos, respectivamente. Apesar de papéis também eles curtos, proporcionam alguns momentos agradáveis, principalmente quando contracenam directamente em cenas de discórdia territorial. Robin Williams (Teddy Roosevelt) traz alguma consistência bem-vinda ao filme, enquanto que Ricky Gervais (Dr. McPhee) é, como sempre, fantástico. Embora o seu tempo de antena seja breve, os momentos ridiculamente hilariantes que cria são autênticas pérolas.

Dick Van Dyke (Cecil), Mickey Rooney (Gus) e Bill Cobbs (Reginald) são os três guardas nocturnos do museu que compõem o trio de vilões do filme. Este lote de veteranos actores cumpriu o que havia sido pedido deles, tendo estado bem. Quanto ao resto do elenco, não me parece que mereça qualquer tipo de referência especial.

Este filme não terá sido o êxito que o estúdio antecipou devido a mais uma estratégia de marketing mal direccionada. Não estamos perante um filme de comédia, mas sim um filme para toda a família assistir a um domingo à tarde, talvez um pouco nos moldes dos típicos family movies da Disney. Tem características que permitem estabelecer uma ligação com crianças, jovens e adultos. Em resumo, um filme leve que proporciona algum entretenimento agradável.

Pontuação global: 5,9

10 July 2007

(2007) Transformers – more than meets the eye

Baseado numa série animada dos anos 80, Transformers é o mais recente filme de Michael Bay. Na série original, duas facções de robots lutam entre no planeta Terra, os decepticons para tentar usar os recursos para os seus próprios fins, e os autobots para os impedir.

Ainda o filme estava a ser pensado e já estava a causar polémica, tudo devido a um rumor que dizia que o decepticon Soundwave iria transformar-se num helicóptero. Felizmente o rumor provou-se falso.

Quanto ao filme em si, começa com um ataque de um decepticon a um base americana no Qatar. Aquele que estava para chamar-se Soundawave, mas que acabou por chamar-se Blackout, vou até ao centro da base, uma vez lá transforma-se e começa a destruir as instalações e veículos até chegar ao seu objectivo. A julgar por esta primeira cena, o filme parecia ser promissor. No entanto, no decorrer do filme ficou claro que essa tinha sido mesmo uma das melhores cenas do filme.


Após essa cena a acção centra-se num adolescente e a sua obsessão pelo seu primeiro carro. Acaba por comprar um Camaro (que foi uma das palavras mais ditas durante o filme) amarelo, que na verdade é o autobot Bumblebee (que na série original era um Volkswagen carocha da mesma cor). O Sr. Bay é conhecido pelo uso descarado de marcas comerciais nos seus filmes. Este não foi excepção. Para aumentar a ira dos puristas da série, um carocha amarelo estava mesmo ao lado do Camaro.

Toda a linha do adolescente é um perfeito atentado à arte cinematográfica. Os diálogos são um perfeito disparate, cheio de “cheesy jokes” e sem qualquer sentido. Pelo meio as cenas de acção, nunca foram tão bem vindas. Pessoalmente, já só queria que o filme tivesse mais cenas de acção, só para não ter de ouvir os diálogos de %&$#@.


Pelo meio, o pentágono recruta um grande número especialistas em analise de sinal, para tentar decifrar sinal, sendo um desses especialistas, uma jovem cheia de curvas. Esta linha revela se como estando em excesso.


Lá para o fim do filme, as três linhas juntam-se, e é então que se dá a batalha final do filme.


O filme sobrevive dos CGIs. São de tirar o chapéu! Além disso, só mais dois pontos positivos: as vozes de todos os transformers e as cenas do Qatar. Tudo o resto varia entre o mau e o péssimo, desde o ritmo às actuações, passando pela ordem das cenas do filme e a qualidade dos diálogos.


No geral, Transformers é um mau filme, que vive dos efeitos especiais, diálogos dignos de um miúdo de 12 anos e claro, da fama criada pela série de televisão. Michael Bay conseguiu superar-se a si próprio! Se este não é o seu pior filme, é um sério candidato (nesta minha avaliação estou a excluir as alterações feitas em relação à série original, que em nada influenciam a qualidade do filme).


Pontuação global: 4,5

07 July 2007

(1975) The Rocky Horror Picture Show


Um segmento inicial suportado uma música brilhante marca o ritmo de The Rocky Horror Picture Show, uma adaptação cinematográfica, realizada por Jim Sharman, do fantástico musical "The Rocky Horror Show", escrito por Richard O'Brien. A peça em palco foi um êxito durante muitos anos, enquanto que o filme apenas obteve o seu devido reconhecimento alguns anos após a sua estreia, possuíndo hoje em dia o estatuto de filme de culto.

A estória começa com um pedido de noivado feito por Brad Majors à sua amada, a bela Janet Weiss, e a decisão de ambos visitarem Dr. Everett Von Scott, o homem responsável por se terem conhecido. No entanto, o casal vê-se subitamente perdido e o carro onde viajavam sofre uma avaria, sendo forçados, no meio de uma noite de chuva, a procurar ajuda num castelo sombrio e assustador. O seu dono é o bizarro Dr. Frank-N-Furter, um cientista louco que, juntamente com os seus ajudantes Riff Raff, Magenta e Columbia, está a organizar uma conferência pouco ortodoxa onde se prepara para proclamar ter dominado o mistério da vida e apresentar a sua última criação: um humanóide chamado Rocky Horror moldado à imagem de Adónis.

O jovem casal é confrontado com uma noite de loucura e repleta de emoções à flor da pele, onde é praticamente impossível prever o que se segue. A estória é contada por uma personagem apenas conhecida por The Criminologist, um narrador omnisciente que, na segurança e aparente formalidade do seu gabinete, retrata os acontecimentos que marcaram esta experiência única nas vidas dos jovens Brad e Janet. Nem todos os intervenientes são o que aparentam e algumas surpresas estão reservadas para aqueles que menos as esperam.

Barry Bostwick (Brad Majors) e uma deliciosamente jovem Susan Sarandon (Janet Weiss) são o casal de heróis desta estória. Ambos desempenham os seus papéis muito bem e apenas posso lamentar alguma falta de capacidade musical por parte de Bostwick para que pudesse realmente ter agarrado o papel com unhas e dentes. Para os fãs de Sarandon, penso que cerca de uma hora em roupa interior será motivo suficiente para que dêem uma oportunidade a este filme.

Richard O'Brien (Riff Raff), Patricia Quinn (Magenta) e Nell Campbell (Columbia) compõem o trio multifacetado de ajudantes pessoais de Frank-N-Furter e, num competo geral, têm uma óptima actuação. Não posso deixar de mencionar a capacidade criativa de O'Brien que foi capaz de criar uma estória original e simultaneamente bizarra e muito engraçada que é suportada por uma banda sonora excelente.

Peter Hinwood (Rocky Horror) é claramente o ponto fraco do elenco. A sua escolha para desempenhar este papel parece apenas ter tido em conta o físico que ostentava na altura, não tendo sido ponderado o "pequeno" pormenor de não possuir qualquer talento musical e teatral. Aliás, de todos os actores principais, foi o único que não cantou as canções em que participou.

Uma breve referência para Meat Loaf (Eddie), que desempenha um pequeno papel com o qual consegue facilmente demonstrar que é o único cantor a sério em todo o elenco, recorrendo à sua poderosa voz para dar vida a uma personagem que esclarece as motivações de Frank-N-Furter.

Todavia, o ponto alto de todo o elenco é, sem qualquer dúvida, Tim Curry (Dr. Frank-N-Furter), que retrata de uma forma deliciosamente fabulosa o excêntrico cientista que pretende dominar o segredo da vida e criar seres vivos que sirvam os seus propósitos pessoais. Curry é um actor que eu sempre admirei e cuja carreira foi, na sua grande maioria, baseada no desempenho de vilões com um requinte que lhe deram a reputação de especialista nesta área específica. Inclusivamente, o seu talento excepcional para fazer vozes em filmes de animação já lhe valeu algumas nomeações para prémios. Quem é capaz de se esquecer de Pennywise, o palhaço maléfico de It? Ainda hoje sou assombrado por essa actuação fantástica!

O principal problema do filme reside em alguma falta de ligação entre os diversos segmentos, ou actos, que constituem o argumento. Estas transições não são exactamente suaves e, pese embora o facto de se tratar de uma adaptação de um musical de palco, poderiam ter sido enriquecidas sem que se perdesse de vista o espírito do filme. A banda sonora do filme é simplesmente excelente, tanto ao nível das letras como do ritmo em si, com algumas das músicas apresentadas a revelarem-se êxitos instantâneos.

"I'm just a sweet Transvestite from Transsexual Transylvania..."

Pontuação global: 7,4

02 July 2007

(2007) Fantastic Four: Rise of the Silver Surfer


Por João Oliveira

Fantastic Four: Rise of the Silver Surfer é a tão aguardada sequela do primeiro filme, de 2005. Esta nova produção conta com os mesmos actores e o inesperado regresso do Dr. Doom, introduzindo um dos personagems mais enigmáticos e maravilhosos da Marvel: O silver surfer.

O filme tem um início algo impressionante. Um excelente prelúdio e introdução muito bem construída. Para os fans, é extasiante, para quem não conhece o universo, fica a saber que o filme promete, pelo menos em termos de enredo. Ao longo do filme, podemos observar a luta constante do casal fantástico para se casar, algo que considero completamente desnecessário e lateral ao enredo, perfeitamente dispensável durante 80 minutos, tornando-se relevante apenas nos últimos 10. E mesmo assim, só se torna relevante nos primeiros 5 minutos desses 10.

Não sei se valeria a pena extender o assunto de tal forma, mas já que o filme é curto.... Seja como for, dá um "menos mau" enchimento das partes paradas do filme, oferecendo um misto de vida pessoal com vida heróica, embora não chegue aos calcanhares do homem aranha (se bem que convenhamos o tom dramático deste por oposição ao tom frustrador e quase cómico nalgumas situações do primeiro). Esta situação vai permitir, quanto muito, algumas comic reliefs revestidas de alguma tensão embarassadora e discussões algo juvenis.

Quanto ao desenvolvimento da plot, algumas descobertas parecem forçadas, aliás, qualquer avanço na plot parece forçado, sendo descoberto por "artes mágicas" por Reed Richards. O ressurgimento do Dr. Doom parece improvisado, mas não deixa de ser uma óptima adição ao enredo e ao desenvolvimento do filme. O silver surfer está excelentemente caracterizado, com a poderosíssima voz de Lawrence Fishburn. O que à partida me parecia ser a maior desilusão do filme, antes de o ver, tornou-se o ex libris. A densidade do personagem está admirável, apesar de ter poucas falas podemo-nos aperceber das dúvidas que o assaltam, e conhecer o seu carácter através das suas acções. O personagem só por si ganha nota 10. Podemos observar um pormenor que foi aproveitado tanto para obstruir como facilitar a plot, no entanto mais um caso da randomização facilitadora de enredo introduzida pela presença do silver surfer, que é o facto da tocha humana ganhar a capacidade temporária de trocar de poderes com quem toca. Este facto é sensacionalisticamente aproveitado para derrotar o Dr. Doom na recta final do enredo, sem no entanto deixar de conseguir um efeito espectacular, embora algo forçado.

O final, quando o Galactus chega ao planeta, foi tão espectacular que ocultou momentaneamente a desilusão que foi a falta de originalidade por parte dos desenhadores de não desenharem o galactus, tornando-o mais uma núvem de poeira galáctica de dimensões gigantescas que envolve o planeta Terra aos poucos. O momento crucial do filme, conseguido pela revolta por parte do silver surfer contra Galactus (como não podia deixar de ser) traduz-se numa monumental acumulação de poder por parte do nosso herói prateado, dando assim a ideia de conseguir destruir esta criatura.

No final, à laia de pós-fácio, o tão desejado casamento é conseguido, se bem que mal encaixado, e o símbolo da equipa é mais uma vez desenhado no céu, um pormenor que pessoalmente considero desnecessário. Rejubilem-se os fans, pois o final dá ideia de haver uma outra sequela, o que poderá ter sido a causa do Galactus não ter aparecido na íntegra. Talvez o encontremos novamente...

No geral, é um filme espectacular, apesar de algumas coisas parecerem forçadas, dinheiro bem gasto, efeitos especiais irreprimíveis, excelente entretenimento.

Pontuação global: 7,0 (Fans podem dar 9)