22 July 2007

(2006) El Laberinto del Fauno


El Laberinto del Fauno decorre no ano de 1944, quando a Espanha se encontrava no período pós-guerra civil e em pleno regime fascista de Franco. Ofelia é uma pequena rapariga com uma imaginação fértil e fascinada com contos de fadas que, juntamente com sua mãe Carmen, que se encontra doente devido à gravidez que atravessa, se prepara para ir viver com o seu padrasto Vidal, um cruel e sádico capitão do exército espanhol, numa zona rural no norte de Espanha. O destacamento militar onde ambas ficam instaladas está envolvido numa guerra com um grupo de guerrilheiros rebeldes que se encontra refugiado nas montanhas.

Durante a primeira noite na sua nova residência, Ofelia conhece um ser, que ela crê ser uma fada, que a leva ao centro de um velho labirinto onde conhece o Fauno, um ser velho e sábio cujas verdadeiras intenções são difíceis de decifrar. Este começa por esclarecer Ofelia que ela é a reincarnação da princesa Moanna, a filha há muito perdida do rei do mundo subterrâneo. No entanto, para comprovar que a sua essência original está intacta e que não se tornou uma mera mortal, o Fauno requere a Ofelia que complete três provas difíceis e perigosas antes da chegada da lua cheia. Caso falhe, não conseguirá provar a sua natureza real e será impedida de reunir-se novamente com o seu verdadeiro pai, o rei.

Ivana Baquero (Ofelia), Sergi López (Capitán Vidal) e Doug Jones (Fauno) são as referências de um elenco que, no seu todo, esteve excelente na retratação de um grupo de personagens peculiar e bastante distinto. A jovem Ivana deu vida a uma personagem cuja idade precoce não inibe a presença de uma enorme complexidade emocional que se vai manifestando progressivamente com o decorrer do filme e juntamente com os desafios que enfrenta para provar a sua realeza. Com apenas 12 anos de idade, Ivana demonstrou uma maturidade imensa e brilhou na sua estreia num papel principal de uma grande produção internacional.

Sergi Lopéz é espantoso na caracterização do que poderíamos considerar o protótipo do militar fascista. É um actor especialista em vilões e todo o seu talento e experiência no desempenho deste tipo específico de personagens transpareceu claramente. O requinte e a intensidade com que retratou a crueldade e sadismo que constituem a própria essência do Capitán Vidal chegou a ser assustadoramente real em certos pontos do filme. Fiquem particularmente atentos a uma cena que envolve dois meros camponeses, que estão no sítio errado à hora errada, e uma garrafa...

Doug Jones começa a ser conhecido como o handyman de del Toro e tem a particularidade de, sob a alçada deste último, apenas ter representado personagens de aspecto não humano para as quais não foi necessário mostrar os seus verdadeiros traços faciais. Um outro pormenor curioso que gostaria de referir diz respeito ao facto de ter sido o único actor americano nos locais de filmagem e de não saber falar espanhol. Na prática, as suas falas no filme foram proferidos de forma fonética, sem qualquer tipo de compreensão lexical associada.

Guillermo del Toro foi capaz de criar uma fábula que aborda num ambiente fantástico um conjunto complexo de paradoxos, como amor e ódio, fantasia e realidade, ou vida e morte. Tanto o argumento como a cinematografia são irrepreensíveis e o facto de ter recorrido ao menor número possível de cenas com CGI num filme de fantasia é, por si só e principalmente nos dias que correm, um feito que merece ser salientado pela positiva. É um realizador talentoso e inteligente cuja carreira atingiu um novo patamar de qualidade com o lançamento deste filme. Até mesmo os que duvidavam da sua capacidade directiva viram-se forçados a reconhecê-lo como um dos melhores da actualidade no ramo da ficção e fantasia. Pessoalmente, gostaria apenas de referir que admiro o percurso cinematográfico de del Toro até ao presente momento e considero-o, inclusivamente, um dos cinco melhores realizadores da actualidade.

Tenho que confessar que não pude conter algumas lágrimas no final do filme. A crueldade humana atinge patamares cuja existência na sociedade em que vivemos, por muito realistas e intelectualmente sóbrios que sejamos, nos encontramos quase impossibilitados de compreender ou aceitar. Este belíssimo conto de fantasia retrata um destes casos e apresenta-se como uma obra de arte que perdurará na memória de todos os que tiverem a oportunidade de o ver.

Pontuação global: 8,8

2 comments:

FNunes said...

Deixa-me apenas adicionar um ponto à tua crítica.É de realçar a qualidade visual dos seres mitológicos. Estes davam a sensação que eram reais.

O que para mim mais se destacou neste filme foi a interacção entre as duas estórias paralelas que estavam a ser contadas. Por um lado o fauno e as tarefas que foram dadas a Ofelia, e por outro o conflito entre Vidal e a resistência. É no jogo que existe entre estas duas realidades que o filme ganha muita da qualidade que tem.

JSilva said...

Pouco posso acrescentar à excelente review do PinkyBrain e ao comentário do fnunes, que já disseram quase tudo o que havia a dizer.

Gostei bastante deste filme.

Uma curiosidade (do IMDb): "Doug Jones has double-jointed legs". Freak.