17 June 2007

(2004) Saw


Dois homens acordam em lados opostos de uma casa-de-banho imunda. Os seus tornozelos estão acorrentados à canalização externa da divisão onde se encontram e entre eles está um homem morto, envolto no seu próprio sangue e em cujas mãos se encontram um mini-leitor de cassetes e um revólver. Esta é a premissa de "Saw", a primeira longa-metragem comercial de James Wan e o filme que o colocou no mapa dos realizadores de terror em Hollywood (a sua primeira longa-metragem foi "Stygian", um filme independente apresentado em 2000 no Melbourne Underground Film Festival).

Os dois homens nos quais a estória se centra são Lawrence Gordon, um médico especialista em Oncologia, e Adam, um jovem fotógrafo freelancer. Após uma fase inicial de choque, ambos descobrem no bolso de trás das calças uma cassete cujo formato coincide com o leitor já referido. Após ouvirem o conteúdo das cassetes, a situação em que se encontram torna-se clara. Ambos são peões num pequeno jogo orquestrado por um assassino apelidado de Jigsaw pela polícia e imprensa. Lawrence é confrontado com uma escolha devastadora: ou mata Adam até às 6:00 horas ou a sua esposa e filha morrem.

Por intermédio de uma sequência de flashbacks, é-nos fornecida uma ideia do modus operandi adoptado por Jigsaw. Na verdade, este não mata as suas vítimas directamente, forçando-as antes a participar em pequenos jogos, perfeitamente estruturados e adaptados ao(s) indivíduo(s) a que se destina(m), nos quais o objectivo é sobreviver a qualquer custo. Compete a cada um destes peões demonstrar a sua vontade de viver, recorrendo ao instinto primitivo de sobrevivência que se encontra latente em todos nós.

Entre todos os flashbacks apresentados, o mais interessante é, sem dúvida, referente a Amanda, uma jovem toxicodependente que se vê subitamente envolvida num dos jogos de Jigsaw e confrontada com uma engenhoca denominada reverse bear trap. Quem já viu o filme sabe ao que me estou a referir; para aqueles que ainda não tiveram a oportunidade de o fazer, a minha pequena referência não estragará quaisquer surpresas que o filme possa vir a trazer.

No que diz respeito aos actores, Cary Elwes (Lawrence) e Leigh Whannell (Adam) são as duas principais personagens deste enredo. Whannell foi, juntamente com o realizador James Wan, o autor do argumento e só lamento que não se tenha restringido a esse nível de participação no filme, dado que a sua habilidade como actor é quase nula. Elwes também não esteve particularmente bem, transmitindo a ideia de estar emocionalmente desligado da personagem que estava a desempenhar.

Danny Glover é David Tapp, um detective da polícia que faz parte da equipa encarregue da investigação das mortes relacionadas com os jogos organizados por Jigsaw. Infelizmente, e mais uma vez, Glover relevou-se incapaz de dar a profundidade necessária para retratar correctamente uma personagem algo complexa e sombria. Uma prova adicional do porquê de nunca ter sido um actor de primeira linha ao longo da sua já longa carreira.

O grande destaque vai para Tobin Bell no papel de Jigsaw. O tom de voz que utiliza nas diversas gravações áudio apresentadas ao longo do filme é suficientemente sinistro para despertar um sentimento de desconforto em qualquer audiência que entre no espírito do filme. O longo repertório de vilões que desempenhou terá facilitado a sua preparação pessoal para esta personagem. Embora o seu tempo de antena aumente drasticamente nos restantes filmes desta franchise, a sua voz, por si só, contextualiza o filme num ambiente mórbido e desconfortável.

Uma pequena referência para Dina Meyer (Kerry) e Shawnee Smith (Amanda), duas mulheres muito atraentes cuja participação nesta saga não se restringe a este filme, com especial ênfase em Amanda, cuja influência no desenvolvimento dos acontecimentos abordados nos restantes filmes é crucial. Mas mais não digo...

Existe um pequeno pormenor que me deixou extremamente irritado, pois é determinante para o despoletar do climax do filme na sua fase final e acaba por ser um erro grosseiro e clamoroso no argumento do filme. Da minha perspectiva, este "pequeno" detalhe fez com que o filme perdesse alguma consistência, embora mantenha a opinião de que se trata de um bom filme de terror com um elevado nível de perversidade equilibrada como já não tinha a oportunidade de ver de há algum tempo a esta parte.

Pontuação global: 7,6

1 comment:

Silver M!C. said...

Este filme e esta crítica são pérolas para a imaginação! Sem mais comentários, tomei a liberdade de fazer um pequeno resumo para aqueles que querem a papinha toda feita; escusam de fazer uma leitura em Z:

Dois homens acordam em uma casa-de-banho imunda. Após uma fase inicial de choque, ambos descobrem no bolso de trás das calças um elevado nível de perversidade equilibrada como já não tinha a oportunidade de ver de há algum tempo a esta parte.