16 April 2007

(2004) Hotel Rwanda


"Hotel Rwanda" é um poderoso filme que retrata a estória de Paul Rusesabagina, um corajoso gerente de hotel que se vê envolvido nos tristes acontecimentos que envolveram o auge da guerra civil no Ruanda no início dos anos 90. O assassinato do presidente do Ruanda serve de motivo para ignorar o tratado de paz assinado poucos dias antes e promovido pela ONU, dando-se início ao genocídio dos cidadãos ruandeses de etnia Tutsi, por parte dos habitantes de etnia Hutu. Mais de um milhão de pessoas foram brutalmente massacradas num período de três meses. Com todos os seus esforços e sacifícios pessoais, Rusesabagina conseguiu salvar 1268 refugiados Tutsi e Hutu, utilizando o hotel que geria como um local de refúgio.

O filme em si padece de um problema inerente à dimensão dos acontecimentos que se propõe a focar. Este pode ser considerado como um conjunto de eventos que se encontram unidos por momentos dramáticos que funcionam como uma espécie de fita-cola cinematográfica. Alguns destes remendos são mais bem sucedidos que outros, mas a qualidade de cada um dos eventos retratados permite ultrapassar este pormenor.

Embora a realização de Terry George seja muito boa, a verdadeira alma deste filme é Don Cheadle com um desempenho fantástico. Conseguiu transmitir-nos a complexidade psicológica da personagem sem qualquer momento menos conseguido. A sua consistência e capacidade de expressão emocional elevou o filme a um nível inquestionável de realismo. Durante a fase de pré-produção do filme, os estúdios interessados queriam actores como Denzel Washington, Wesley Snipes e Will Smith para desempenhar o papel principal.

(NOTA: Will Smith? Por amor de Deus, haja paciência para aturar estes supostos experts dos estúdios. Será que ainda ninguém se apercebeu que este menino não sabe actuar?)

Felizmente, Terry George insistiu com o seu plano inicial de escolher Cheadle para o papel de Paul Rusesabagina e o resultado está à vista de todos. Curiosamente, uma das actuações mais intensas do filme ficou a cargo de Joaquin Phoenix, que desempenhou o papel de um operador de câmara destacado para cobrir os acontecimentos no Ruanda e cujo tempo de antena não ultrapassou aproximadamente 5 minutos. Nick Nolte tem também um papel importantíssimo que traz uma consistência inequívoca a alguns dos momentos mais dramáticos do filme. Embora fosse a única personagem ficcional, esta foi criada com base no oficial canadiano que liderava as forças da paz das Nações Unidas e que, perante a apatia dos seus superiores e indo contra as ordens expressas que tinha, interferiu no conflito da melhor maneira que pode. A angústia e a frustação de estar de mãos atadas perante um genocídio foram muito bem retratadas por Nolte.

De um ponto de vista global, não se pode negar que um tema tão sensível como este poderia ter sido abordado de uma forma menos dramatizada, mas as imagens cruéis e chocantes com que somos confrontados conferem um realismo ao filme que lhe permite ultrapassar quaisquer deficiências que apresente, por muito notórias que sejam. Penso que o filme terá, inclusivamente, conseguido envergonhar alguns dos que poderiam ter evitado os trágicos acontecimentos que se verificaram no Ruanda.

Pontuação global: 8,1

1 comment:

Silver M!C. said...

Ora cá está o empurrão que eu precisava! Obg ;)
-- Lino