09 March 2007

Os "meninos mimados" do Público

À dias ouvi um podcast, em que às tantas o “host” que não é possível que se faça um critica sem que se inclua a opinião pessoal do crítico. Isso é verdade mas também há que ter a maturidade para não deixar que a crítica seja guiada pela opinião pessoal, ou seja, por não ter gostado de um filme não vou escrever uma critica apontando-lhe somente defeitos, porque decerto que o filme tem algo de bom. Isto significa que muito dificilmente um filme teria nota 0 numa escala até 10. Mas independente da nota atribuída pelo critico, a sua critica pode ser mais ou menos dura apontado as falhas que o filme tem.


Toda esta conversa para tentar justificar uma separação que pode ser feita entre um bom e um mau crítico. Tendo um bom nível de conhecimento cinematográfico, o bom crítico é aquele que reconhece aspectos positivos num filme que não gostou e pontos negativos num que tenha gostado. No entanto não parece que isso se possa aplicar aos críticos do cinecartaz do jornal Público. Antes de mais devo expressar a minha admiração pelo site nomeadamente pela informação dos horários e filmes das salas de cinema de todo o país. No entanto, no que diz respeito aos críticos (e aqui estou a referir-me aos críticos residentes e não aos utilizadores do site que deixam criticas aos filmes nesse site) devo deixar aqui uma nota muito negativa, simplesmente porque não consigo compreender o que vai na cabeça daqueles senhores.


Antes de mais tenho de clarificar que eles classificam os filmes numa escala que vai até 5, o que significa que é muito mais provável ser atribuída nota máxima do que numa escala até 10. Mas o problema é o modo como essa escala é usada, nomeadamente alguns 0s atribuídos a filmes, a meu ver sem justificação. Para tal vou pegar no exemplo do filme Babel. Para que não se recorda, o filme esteve nomeado, entre outros, para o Oscar de melhor filme. O que significa que deveria ser um dos 5 melhores filmes do ano. Embora isso seja sempre discutível, deveria ser consensual que apenas maus filmes não fazem parte do lote de candidatos a essa estatueta. Mas segundo os pseudo críticos do público, o filme deveria era estar nomeado para um Razzie a julgar pelas notas e critica que o filme tem no site. Dos quatro críticos residentes, três atribuiriam nota 1 e o outro classificou-o com um 0.


Vamos então por partes. A minha opinião é que o filme está “overrated”, e que não é tão bom quanto o pintam. Isso faz do filme um mau filme? Não, pois por um filme não ser muito bom apenas quer dizer isso, que não é muito bom. Achei que o estilo de realização do filme bastante mau, pois as quatro estórias contadas a serem constantemente interrompidas para continuar um pouco de outra torna o filme confuso de seguir. E ainda pior, as estórias não estavam a acontecer ao mesmo tempo, e quando mudava o espaço da acção, podíamos ter avançado ou recuado no tempo. Também não gostei do facto de duas delas estarem muito pouco ligadas, e defendo que o filme ganhava muito se se centrasse nas duas que ocorrem em Marrocos.


Sabendo isto, Babel é um mau filme? Não, porque um filme não é apenas realização. Embora tenha detestado a forma como o filme está mostrado, as estórias contadas são boas estórias. Todas as quatro! Os actores no geral convencem, principalmente a actuação na parte dos marroquinos. Os planos estão bem, o som é bom, a banda sonora recordo-me de ambientar bem o filme. A nível técnico o filme está bom. Então, somando todos os factores a minha classificação é 6.5, ou em escala até 5, nota 3. Isso é um mau filme? Não, é um filme médio ou um pouco acima da média. Embora tenha ficado com um amargo de boca quando saí da sala, pois esperava um filme melhor, não acho que o filme seja mau de todo.


No entanto, quando certos críticos atribuem nota 0 a um filme estão a querer dizer que o filme é lixo, nada se aproveita. A minha pergunta a todos é, quantos filmes já viram do qual nada é bom? Não muitos acredito. E quantos é que atribuiriam 0 ao Babel? E o pior é quando se lê a critica e nos apercebemos que ela se limita a disparar para todas as direcções, sem qualquer comentário à qualidade do filme. Isso assim não é crítica.


Não me estou a julgar uma autoridade em cinema, mas as criticas que leio no cinecartaz são uma tragicomédia negra. Não sei se hei-de rir ou chorar!


Em resumo, concordo com as palavras do fundador deste blog: “os "meninos mimados" do Público, que percebem tanto de cinema como eu de pesca subaquática no norte das Bahamas entre os meses de Março e Maio.”




PS: De notar que Babel é apenas um filme que tomei como exemplo. Há mais cujas notas não consigo entender.

4 comments:

JSilva said...

> E o pior é quando se lê a critica e nos apercebemos que ela se limita a disparar para todas as direcções, sem qualquer comentário à qualidade do filme.

E além disso, os críticos do Público acham-se especialistas na matéria e são condescendentes. Cultivam uma imagem de connoisseurs e olham com desdém para opiniões diferentes.

Acho que se chama snob às pessoas que são assim.

Anonymous said...

Alto lá, JSilva!

A diferença fundamental entre os snobs residentes deste blog e os pseudo-especialistas em cinema do Público é que nós assumimos abertamente que escrevemos o que queremos e não temos qualquer obrigação para com quem quer que seja.

Agora, aqueles senhores estão a ser pagos para providenciar um serviço ao jornal em questão e para informar as pessoas. Pegando no exemplo referido, ao atribuírem uma classificação de 0 (ZERO!) ao "Babel", apenas estão a demonstrar o quão ridículos são e, mais grave que isso, estão pura e simplesmente a criar a uma onda de contra-informação relativamente à qualidade dos filmes que vão passando pelas salas de cinema nacionais.

Quando tiver a oportunidade de escrever a minha primeira review de um filme neste blog, deixarei bem claro que nunca irei desaconselhar uma pessoa de ver um determinado filme. A minha opinião terá o valor que tiver e apenas a própria pessoa terá a capacidade de ajuizar acerca dos méritos ou deméritos de um filme.

Resumindo, ao intitulares os palhaços amadores do Público de snobs, senti-me um pouco insultado, para ser sincero. Não gosto de ser posto no mesmo plano intelectual de pessoas cujo cérebro não passa de um campo de cultivo de batatas.

FNunes said...

Há um diferença fundamental entre nós e qualquer outro blogger que ande a escrever sobre cinema e os críticos do Público (neste caso pseudo-críticos) e outros críticos de um meio de comunicação social: nós somos amadores, ou seja, não somos pagos para fazer reviews. Fazêmo-las simplesmente porque gostamos de cinema o suficiente para deixarmos a nossa opinião escrita em forma de review. Não temos uma obrigação perante a sociedade de estarmos a fazer um bom trabalho, porque não somos espostos à pessoas; são elas que decidem que querem ler o nosso blogue.

Em resumo. Eu posso escrever uma má review que não vai afetar ninguém, mas se escrevesse para um jornal a conversa era diferente. Estaria a expor a minha opinião em relação perante centenas de pessoas que poderão estar a estar interessadas naquilo que escrevi para decidir se é um filme que lhes interessa ver ou não.

Voltando ao Babel. Gostei do filme? Nem por isso! É um mau filme? Nem pensar! Um exemplo que gosto de dar é o Fight Club. Detestei o filme! Reconheço que é um bom filme mas não consigo gostar dele. Vou recomendar que o evitem? NÃO!

Quero fechar o meu comentário (que parece que vai ficar quase tão grande como o post que coloquei) com a crítica do pseudo-intelectual que atribuiu ZERO ao Babel. Consegui perceber que as estória são más. E a cinematografica? actuações? cenários? realização? E quanto à velocidade (pace) do filme, se ele chama aquilo lento, quero saber o que para ele é um ritmo normal...



escrito por Mário Torres 29-11-2006

"Alejandro González Iñárritu entrou no vocabulário da indústria cinematográfica com o sobrevalorizado "Amor Cão" e reincidiu com um confuso, embora curioso, "20 Gramas". Agora, perfila-se para uma chuva de Óscares com esta "elaborada" narrativa em mosaico, cruzando três histórias, ligadas entre si, por mais do que óbvios fios ficcionais: um caçador japonês oferece a espingarda ao seu guia marroquino, que a vende a um pastor que, por sua vez, a dá aos filhos para protegerem os rebanhos dos chacais; os "queridos meninos" entretêm-se a disparar contra um autocarro de turistas e atingem uma americana (Cate Blanchett, para dar a necessária caução estelar), em viagem de reconciliação (nunca se percebe bem) com o marido (Brad Pitt, em mais um "papel de embrulho" luxuoso), cujos filhos (loiros e "anglos", como convém) estão ao cuidado de uma empregada mexicana, clandestina; esta, porque não tem com quem os deixar, atravessa com eles a fronteira, para assistir ao casamento do filho. No regresso, conduzidos pelo sobrinho da mexicana (pobre Gael Garcia Bernal, para apelar ao mercado hispano falante), têm problemas com a polícia fronteiriça e as adoráveis crianças acabam perdidas no deserto e a dita cuja criada é extraditada. Entretanto, e pelo meio, com montagem paralela, bem denunciada, o caçador japonês (tinham-se esquecido do caçador japonês?), tinha uma filha surda-muda e ninfomaníaca, filha de uma mãe suicida. As imagens na televisão, relatando o imbróglio internacional, fazem o resto e lançam os três episódios, em lentíssima velocidade, a caminho da Babel do título, glosa do mito bíblico e modo de arrumar, no mesmo pacote, os marroquinos terceiro mundistas, os japoneses da sociedade da abundância e da massificação e os mexicanos da diáspora (e não só), que fornecem a componente folclórica das danças e das bodas, para além de identificarem Iñarritu com o que dele se espera: o condimento hispânico para apimentar.

A encenação deambula pelos três espaços (quatro, se contarmos com o Sul da Califórnia, para assegurar o reconhecimento maioritário do mercado americano) sem tom nem som, desperdiçando tudo: paisagens desérticas e urbanas (no "sketch" japonês, em que se anula a tensão pelo ridículo das situações "sexuais" de primário exibicionismo), actores carismáticos, mensagem política com todos os cordelinhos à mostra. Se o objectivo era mesmo demonstrar à exaustão os malefícios da globalização, o projecto precisaria, para não cair neste demagógico exercício sobre o vazio, de personagens que ultrapassassem a caricatura estereotipada, de um "timing" adequado para gerir saltos no tempos, regressos a diferentes pontos de vista sobre a mesma linha ficcional e, sobretudo, de uma noção mínima do entrosamento (complicado) entre diferenças culturais e comportamentos cívicos. Assim, com tudo "a trouxe-mouxe", o filme escorrega na demagógica tentação de opor os "bons selvagens" à selvática repressão policial; jogando com o poder do aleatório, uma espécie de caricatural escrita automática, para justificar a anarquia narrativa e o bocejo generalizado, que se instala. As lamentáveis sequências do bando de turistas na aldeia dos marroquinos "bonzinhos" e da perseguição na fronteira mexicano-americana constituem a ponta do perigoso "iceberg" da exibição aculturada de um mundo global, que se quer condenar. Ou não?"

Silver M!C. said...

É o chamado nivelamento por baixo: o homem até tirou uma grama a um dos filmes que referiu! eh eh