03 March 2007

A psicanálise da crítica

Se um dia o sonho dos críticos de cinema se tornar realidade e for criado um óscar para a melhor crítica e se o meu sonho se tornar realidade e eu ganhar esse óscar, no meu discurso de agradecimento, vou sem dúvida recordar as primeiras críticas que li na minha juventude. Foi nas páginas do Cartaz do jornal Expresso que o meu sonho começou. Nessa altura, e julgo que ainda é assim agora, o Expresso tinha quatro críticos residentes que comentavam e classificavam cada um dos filmes em exibição. Quando eu queria decidir que filme iria ver espreitava os comentários e estrelinhas atribuídas pelo JLR, MCF, FF e mais outro cujo nome não me recordo. Aquilo que logo me cativou e apaixonou nesta arte, a de criticar, foi como a subjectividade emocional subjacente ao cinema, que é a arte de provocar emoções através da imagem em movimento, pode ser tão habilmente mascarada com tecnicismo racionalista. Ou seja, o crítico hábil consegue convencer-nos que o Tomb Raider é uma obra plasticamente genial e ele próprio perder a noção de que só gostou do filme graças ao genial par de plásticas da Angelina Jolie. Isto, senhores, é arte. E era assim, que o mesmo filme recebia 5 estrelas dadas pelo JLR, apenas a tradicional bolinha do FF e duas irrefutáveis justificações dadas por cada um deste críticos. Eu, imediatamente vi na crítica cinematográfica adubo para o snobismo da minha inteligentite florescer. Assim foi e eis que dou por mim a chegar ao ponto mais alto da minha carreira: O Movie Snobs. No entanto, antes de começar a postar e pedindo paciência a algum raro leitor que tenha as emoções em harmonia com a razão, quero deixar este lembrete:

O gostar ou não de um filme depende de um grande número de factores que nem mesmo Freud equipado com leitor de dvds conseguiria trazer por completo à consciência. Não é pelo filme ser "bom" que vamos gostar dele. O objectivo do crítico é convencer-nos que aquilo que ele pessoalmente gosta é "bom", mas nós, que temos um historial psicanalítico diferente e podemos por exemplo não sofrer de complexo de Édipo, não iremos gostar necessariamente do mesmo!

Dito isto, e porque só através da discussão nos poderemos algum dia entender... é tempo de disparar em todas as direcções!

4 comments:

JSilva said...

> mascarada com tecnicismo realista

Estás a falar do que não entendes. Eu fui convidado para este blog pois sou uma sumidade em hermenêutica cinematográfica: O Tomb Raider é genial devido precisamente à contribuição dada pela Angelina Jolie. O seu desempenho provocou em mim toda uma panóplia de emoções que vão desde a luxúria à... bem, afinal foi só uma emoção. Mas ainda assim, é genial.

> só através da discussão nos poderemos algum dia entender

Peço desculpa, mas se a intenção é sermos razoáveis vou-me já embora. A discussão nunca servirá para convencer. Apenas para alardear um sentimento de superioridade no que toca ao gosto em filmes. É óbvio que iremos discordar frequentemente, mas isso não altera o facto de ser eu a estar certo quanto aquilo que eu gosto.

Como diz o Papa: "Look! I'm the bloody pope, I am! May not know much about art, but I know what I like!"

FNunes said...

Em resumo:

Welcome to the movie snobs.

Mig said...

Pois eu achei muito bem!

Anonymous said...

Como fundador desde espaço de autêntico massacre cinematográfico, aproveito para dar as boas vindas ao Scissorhands. Um primeiro post verdadeiramente fantástico! Acabaste de colocar a fasquia bem alta para futuros posts, mas estou plenamente convencido que estarás à altura do desafio.

Em relação ao conteúdo, fiquei contente por a tua fonte de inspiração não terem sido os "meninos mimados" do Público, que percebem tanto de cinema como eu de pesca subaquática no norte das Bahamas entre os meses de Março e Maio.

Parece-me óbvio que não podias fazer um comentário acerca da Angelina sem seres imediatamente atacado. Por mim, estás à vontade, embora deva realçar que, caso um dia tenhas a oportunidade de "meter as mãos na massa", te lembres de partilhar "os despojos do dia" com os amigos. :P

Aproveito também para deixar um bem haja ao blogger denominado Mig, que foi o primeiro "não-snob" a colocar um comentário no blog. :)