20 February 2007

Nomeações para os Oscars 2007 (2 de 8)

Começando por recordar que acertei nas 5 nomeações para a categoria Best Motion Picture of the Year, vou então prosseguir a minha previsão dos resultados dos Oscars, focando a minha atenção na seguinte categoria, tendo, mais uma vez, acertado em cheio nestes 5 candidatos:

(2) Best Achievement in Directing

Esta categoria apresenta um nível de incerteza claramente inferior à que abordei na primeira parte desta previsão dos Oscars. Aquando da divulgação das nomeações, a sensação imediata foi a de que este seria finalmente o ano de Martin Scorsese. À sexta nomeação, e após 5 tentativas prévias em que o tão ambicionado prémio lhe escapou ("Raging Bull", "The Last Temptation of Christ", "Goodfellas", "Gangs of New York" e "The Aviator"), este seria o ano da consagração absoluta daquele que, para mim, é um dos 3 melhores realizadores de sempre da história do cinema.

Uma das dúvidas que mantinha dizia respeito aos resultados da cerimónia dos prémios da Screen Director's Guild. Ao longo das 56 edições de entrega destes prémios, por 52 vezes o prémio atribuído veio, mais tarde, a coincidir com o Oscar. Dado este facto curioso, esperei ansiosamente pela realização da cerimónia, e consequente entrega dos prémios, e quando constatei que Scorsese tinha sido premiado pelos seus colegas de profissão devido ao fantástico trabalho que desenvolveu no filme "The Departed", elevei o meu nível de convicção para 93% de que o Oscar irá ser-lhe atribuído.

Os indícios que apontam para este resultado são imensos e demasiado fortes para que uma pessoa sensata aposte em qualquer um dos restantes quatro nomeados para a vitória nesta categoria. De qualquer forma, gostaria de falar um pouco sobre cada um deles, começando por Stephen Frears, que considero um dos realizadores britânicos mais subestimados da sua geração.

O currículo deste experiente realizador inglês é extraordinário (quem não se lembra de filmes como o fantástico "Dangerous Liaisons", "The Grifters" que lhe valeu a sua única nomeação nesta categoria até este ano, "Hero", o incompreendido "Mary Reilly", o soberbo "High Fidelity" e "Mrs Henderson Presents"), tendo ficado claramente explícita a sua capacidade para lidar com actores de renome, levando-os a desempenhar os seus papéis com brilhantismo. O expoente máximo da sua carreira é, sem qualquer dúvida, The Queen, sendo este o seu trabalho mais consistente e poderoso, no qual beneficia de dois pontos em seu favor: a abordagem do período conturbado que se viveu em Inglaterra após a morte da Princesa Diana, uma figura quase elevada ao estatuto de deusa pelo povo, e a fenomenal interpretação de Helen Mirren, não sendo nenhum exagero afirmar que Frears foi autenticamente abençoado aquando da resposta afirmativa de Mirren ao convite que lhe havia sido feito.

Desde que começaram a ser veiculadas as primeiras notícias que indicavam uma vontade de abordar este período específico da história inglesa em filme, sempre afirmei que apenas existia uma actriz capaz de interpretar aquele que poderia vir a ser um papel talhado para os Oscars. E essa mulher é Helen Mirren. Terei, no respectivo artigo, a devida oportunidade de elaborar sobre a minha admiração por esta deusa da 7ª Arte. Fiquei muito contente por ver o trabalho de Frears reconhecido na cerimónia de entrega dos BAFTA, com o galardão de melhor filme britânico do ano.

Clint Eastwood é um monstro do cinema. E não o digo com uma conotação negativa. Bem pelo contrário, visto que este homem é uma das pessoas que sempre admirei em Hollywood por ser um trabalhador incansável, rigoroso, sério e fiel aos seus princípios morais e de vida. O trabalho que desenvolveu ao longo de todos estes anos de carreira fala por si. Quem é que se poderia esquecer do mítico Dirty Harry, o protótipo de polícia perfeito, para o qual os fins justificam os meios, quando se tratava de apanhar o mau da fita e ver a justiça cumprida? Apesar de um vasto leque de grandes papéis desempenhados, sempre me pareceu que a sua carreira subiu a pique a partir do momento em que decidiu dedicar-se mais à sua faceta de realizador, sem nunca abdicar, no entanto, da oportunidade de desempenhar os principais papéis em muitos dos seus filmes.

Tudo começou com o fantástico "Unforgiven", onde assumiu a dupla tarefa de protagonista e realizador, tendo o seu trabalho sido reconhecido unanimemente pela crítica e coroado com os Oscars de melhor realizador e melhor filme. E este filme permitiu constatar uma das maiores virtudes de Eastwood como realizador (virtude essa que partilha com Scorsese e que apenas os abençoados possuem) é a sua capacidade inata de fazer brilhar os seus actores, através de um processo de casting criterioso em que nada fica ao acaso, sendo o resultado final um emparelhamento quase perfeito entre actores e papéis. No filme em questão, como é possível esquecer o desempenho de Gene Hackman, tendo conquistado o Oscar de melhor actor secundário? Mais recentemente, temos os casos de "Mystic River", com a atribuição dos Oscars de melhor actor e melhor actor secundário a Sean Penn e Tim Robbins, respectivamente, e "Million Dollar Baby", com o qual atingiu o ponto alto da sua carreira e a consagração definitiva, com 4 estatuetas douradas (melhor filme, melhor realizador, melhor actriz principal para Hilary Swank e melhor actor secundário para Morgan Freeman).

Alejandro González Iñarritu é um realizador com um currículo pouco extenso, principalmente devido ao facto de apenas ter realizado o seu primeiro filme aos 33 anos e de ainda ser bastante novo (43 anos), de acordo com os padrões usuais para realizadores. Pode-se rapidamente constatar que Iñarritu contas apenas com 3 longas-metragens na sua curta carreira, constituíndo estas uma trilogia cujo principal tema é o ser humano e a forma como se relaciona com outros seres da sua própria espécie em diversos cenários e contextos emocionais. "Amores Perros", "21 Grams" e "Babel", respectivamente, contam diversas histórias onde me parece que a principal ideia a reter é a incapacidade do ser humano em lidar com as suas próprias emoções e com as consequências que as suas acções acarretam.

O seu estilo de realização é algo peculiar, passando pela construção de uma rede de acontecimentos sem uma sequência cronológica e espacial bem definida, o que pode facilmente despertar sentimentos de confusão e desconforto nos espectadores. Um dos snobs residentes deste blog não é, ele próprio, um grande fã do estilo de Iñarritu, enquanto que, pessoalmente, devo dizer que, embora não seja o meu tipo de realização favorita, também não me incomoda muito e consigo, com alguma paciência, lidar com os constantes saltos no enredo. É a sua primeira nomeações e parece-me estar perfeitamente arredado de qualquer hipótese de vencer a categoria.

Paul Greengrass tem a carreira mais modesta de todos os realizadores nomeados, mesmo em comparação com Inãrritu, dada a diferença de 8 anos de idade entre ambos, sendo Greengrass mais velho. O trabalho de Inãrritu conseguiu já atingir um nível de notoriedade do qual Greengrass começou apenas a aproximar-se no ano de 2004, embora numa direcção cinematográfica completamente distinta, com a estreia de "The Bourne Supremacy". Com a excepção de "The Theory of Flight", que retrata uma história algo curiosa e pouco comum, a carreira de Greengrass parece ter sido focada em películas relacionadas com manobras militares e a estadia sangrenta dos ingleses na actual República da Irlanda ("Bloody Sunday"). "United 93" é o grande feito da sua carreira até ao presente momento: um filme poderosíssimo, que aborda um tema ainda muito presente em todos nós e com o qual lidou de uma forma fria, directa e, em certos pontos, quase cruel. Tal como Iñarritu, é a sua primeira nomeação nesta categoria e finaliza o lote de não-candidatos.

2 comments:

JSilva said...

Como ainda não vi nenhum dos filmes mencionados, sinto-me perfeitamente legitimado a fazer um comentário.

Já que neste ano a Academia voltou a não nomear o Uwe Boll, temos que nos cingir a um destes cinco arrivistas para o Oscar de melhor realizador.

Parece-me seguro que o Oscar será entregue ao Clint ou ao Martin (we're on a first-name basis). Entre estes dois, não consigo dar certezas: O Clint tem o revólver mais potente do Mundo mas o Martin conhece o Joe Pesci que poderá "persuadir" alguns dos membros da Academia.

Se ganhar o Clint, o nosso colega blogger PinkyBrain irá chorar de tristeza e indignação. Se ganhar o Martin, o PinkyBrain irá chorar de alegria. Em qualquer caso, haverá choro. E fotos disso no blog.

FNunes said...

Mais uma vez estou de acordo com o favoritismo do Martin Scorsese para esta estatueta.

Quanto ao Clint...bom, se o Letters from Iwo Jima ganhar algum Oscar importante seria a surpresa total. Após ter visto o filme, estou cada vez mais convencido que as nomeações que recebeu são prémio suficiente. O filme não tem um perfil para ganhar esta estatueta ou a de melhor filme, embora talvez as merecesse.