24 February 2007

Nomeações para os Oscars 2007 (3 de 8)

Partindo de um registo perfeito nos palpites fornecidos para as duas categorias já abordadas, passo para a minha previsão dos resultados dos Oscars na seguinte categoria:

(3) Best Performance by an Actor in a Leading Role

Nesta categoria começam então a surgir as piadas falhadas da Academia. Porquê falhadas? Porque não têm piada, obviamente! Sobretudo quando não são nomeados actores que o mereciam em claro detrimento de alguns que se encontram nesta lista.

Começo logo pelo caso mais gritante de todos. Will Smith? Quando é que esta gente da Academia se convence que este homem é um dos actores mais sobre-estimados da sua geração? Será que alguém, no espaço de 5 segundos, me consegue dizer o nome de 3 filmes em que tenha tido um bom desempenho? E respondendo à primeira questão que surgiu na vossa mente mal terminaram de ler a questão anterior, não podem responder "The Prince Of Bel-Air", pois não é um filme e o seu papel é medíocre, assim como a série em si.

Ah, esperem... Já me estou a recordar do brilhante papel que desempenhou em "Ali". Eu disse "brilhante"? Não liguem ao que digo... Deve muito provavelmente ser algum sintoma inicial de uma contaminação com o H5N1. Como é possível um homem estragar papéis ao mesmo ritmo que eu vejo filmes? Nunca vi um papel tão mau num filme biográfico como o de Smith em "Ali". Centrando-me no papel em questão, "The Pursuit Of Happyness" é um filme com uma história para "puxar lágrimas", se me permitem a expressão, e bastante consistente, mas, mais uma vez, não consigo deixar de achar o seu desempenho perfeitamente vulgar. Como tal, não consigo compreender os fundamentos da sua nomeação para esta categoria.

Continuando a dar corda a esta onda de revolta, passo então para Leonardo DiCaprio. Esqueçam o "Titanic" de uma vez por todas e constatem aquilo que é facto: DiCaprio é o actor mais talentoso da sua geração e irá, um dia mais tarde e sem qualquer tipo de dúvida, figurar na lista dos melhores actores de sempre. A sequência de desempenhos fabulosos com que nos tem brindado (apetecia-me dizer "abençoados", mas não quero que fiquem a pensar que sou algum religioso fanático que justifica o lado bom da vida com Deus e outras referências ectoplasmáticas espectrais semelhantes) nos últimos anos apenas é ultrapassada pelo trabalho de alguns monstros de Hollywood, como Robert De Niro e Al Pacino, por exemplo.

O início do seu amadurecimento como actor começou no momento em que foi "adoptado" por Scorsese, substituíndo um já algo envelhecido e pouco dinâmico De Niro e passando a assumir o papel de actor-fetiche de um dos maiores realizadores de sempre. O ano de 2006 ficou marcado por dois excelentes desempenhos de DiCaprio nos filmes "The Departed" e "Blood Diamond" dos realizadores Martin Scorsese e Edward Zwick, respectivamente. Após uma análise cuidada destes filmes, mantenho a minha reacção de estupefacção quando me deparei com a nomeação de DiCaprio para esta categoria pelo seu papel em "Blood Diamond". Embora seja um desempenho notável, até um miúpe como eu é capaz de constatar que o papel de DiCaprio em "The Departed" será o seu melhor desempenho até hoje, juntamente com a sua caracterização de Howard Hughes em "The Aviator".

A verdadeira questão a considerar, relativamente a esta situação, é a seguinte: porque é que DiCaprio não foi nomeado por "The Departed"? Uma possível teoria, e que é a minha actual convicção, é dada no decurso da análise do próximo nomeado, mas posso, entretanto, deixar aqui a moral da história que, infelizmente, passa por este não ser o ano de DiCaprio nos Oscars. A minha admiração por este actor cresce a cada filme seu que vejo e acredito que a conquista de uma estatueta dourada não é mais do que uma questão de tempo.

A resposta à questão que havia lançado no parágrafo anterior está directamente relacionada com Peter O'Toole. Estando DiCaprio fora da corrida devido a uma nomeação muito inteligente por parte da Academia, restam dois resultados possíveis para esta categoria, passando um deles pela já muito tardia consagração deste enorme actor que poderá ver ser-lhe atribuído este ano o prémio que já lhe escapou em 7 prévias tentativas ("Lawrence of Arabia", "Becket", "The Lion in Winter", "Goodbye, Mr. Chips", "The Ruling Class", "The Stunt Man" e "My Favorite Year").

A cerimónia deste ano marca um período de 25 anos de ausência de O'Toole das nomeações para os Oscars, tendo-lhe, no entanto, sido atribuído na cerimónia de 2002 o único Honorary Award dado pela Academina até hoje por, e passo a citar, "whose remarkable talents have provided cinema history with some of its most memorable characters". Por favor... Se não querem dar um Oscar ao homem, ao menos tenham a decência e coragem de o afirmar publicamente, ao invés de nos atirarem com areia para os olhos. Parece-me que não há muito a dizer sobre este homem, dado que o seu vasto e glorioso currículo fala por si e é capaz de deixar boquiaberto qualquer amante de cinema.

Se bem se recordam, afirmei que existiam dois resultados possíveis para esta categoria. Estando um deles já coberto, o outro diz então respeito à vitória de Forest Whitaker, o que daria continuidade à impressionante série de vitórias que este veterano actor tem vindo a coleccionar em todas as cerimónias relacionadas com cinema pelo seu retrato do ditador Idi Amin em "The Last King of Scotland". O seu desempenho é soberbo e marca claramente o ponto alto de uma carreira algo discreta, no sentido de que Whitaker participou em alguns dos filmes mais marcantes do cinema, mas sempre em papéis secundários e quase sempre ofuscado por desempenhos fantásticos dos respectivos cabeças de cartaz.

Até ao lançamento do filme pelo qual se encontra nomeado, apenas posso destacar os papéis que desempenhou em "The Color of Money", "Platoon", "Good Morning, Vietnam" e "The Crying Game", sendo que estes me parecem ser aqueles onde mais teve a oportunidade de mostrar o seu verdadeiro valor e as suas capacidades como um actor versátil capaz de estar à vontade em géneros tão variados como acção, drama e comédia. No que diz respeito à vitória nesta categoria, é um dos dois principais candidatos e mais não é preciso dizer.

Ryan Gosling é a grande surpresa neste lote de actores, pelo menos para quem ainda não teve a oportunidade de ver "Half Nelson". Este jovem actor ocupa uma vaga neste lote de nomeados que começa a parecer estar reservada todos os anos para uma nomeação surpresa. No entanto, não posso deixar de referir a justiça da chamada de atenção para o talento de Gosling que esta nomeação constitui para os mais distraídos em Hollywood, cuja carreira no grande écrã começou com um pequeno papel em "Remember the Titans". Quando tive oportunidade de o ver em "Murder by Numbers", fiquei cativado com o seu desempenho, que acabou por ser a única fonte de luz num filme vulgaríssimo. Antes de Half Nelson, Gosling teve 3 papéis notáveis e dignos de referência nos filmes "The United States of Leland", "The Notebook" e "Stay". Tem um futuro brilhante e esta poderá ser apenas a primeira de muitas nomeações e quem sabe se não virá mesmo a levar para casa uma destas estatuetas.

Recapitulando, esta estatueta irá ser atribuída a Peter O'Toole ou Forest Whitaker, embora a minha intuição me diga que O'Toole irá abandonar Los Angeles com um imenso sorriso nos lábios e com um prémio há já muito merecido. Em relação aos palpites pessoais para as nomeações, desta feita apenas acertei em 3, pois tinha apostado na nomeação de DiCaprio pelo seu papel em "The Departed" e, provavelmente para grande espanto de alguns, estava convicto que Sacha Baron Cohen iria ver o seu super-desempenho em "Borat: Cultural Learnings of America for Make Benefit Glorious Nation of Kazakhstan" reconhecido pela Academia com uma nomeação nesta categoria. Sinceramente, acho que Sasha deve considerar a sua vitória nos Golden Globes muito mais importante que qualquer possível nomeação para os Oscars, visto que a Hollywood Foreign Press até parece perceber alguma coisa de cinema e, quiçá, até seja mais instruída nesta matéria do que certas Academias...

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